Hardcore – No Submundo do Sexo (Hardcore) / Eua,1979. 109 Min. / Direção: Paul Schrader / Com: George C. Scott, Peter Boyle, Season Hubley, Dick Sargent.
Estamos no final dos anos 70, início dos 80, quando a pornografia se estabelecia como um novo mercado de trabalho para atores, atrizes, diretores e produtores ávidos por um lucro fácil e rápido. A subcultura pornográfica era um mundo em ascensão com o aparecimento de casas eróticas, saunas, bares temáticos e lojas de libertinagens freqüentadas por uma clientela essencialmente masculina com ânsia de novas formas de prazer e satisfação. O mundo ainda não conhecia a Aids e a promiscuidade não era um fator de risco. “Hardcore – No Submundo do Sexo” (Hardcore) foi realizado em 1979, exatamente nesta época, quando o sexo era algo convidativo e extremamente sedutor.
O genial diretor e roteirista Paul Schrader (autor de “Taxi Driver” e “Touro Indomável”, só para citar alguns) em seu segundo longa metragem, faz um retrato de uma América dividida entre o conservadorismo e a promiscuidade quando um pai fundamentalista sai em busca de sua filha adolescente, desaparecida após uma convenção religiosa. Após contratar um detetive (o fraco Peter Boyle) e com a ajuda de uma prostituta Niki (Season Hubley), Jake VanDorm (o excelente George C. Scott) desce aos porões da indecência humana vasculhando o submundo do sexo nas cidades de Los Angeles, Las Vegas e São Francisco para concluir que estes dois mundos não podem viver em harmonia. Schrader explora esse conflito como um guia fascinado pelo mundo pornográfico mostrando trechos de snuffs movies, o funcionamento das casas de massagem e das masmorras de prazer.
“Hardcore – No Submundo do Sexo” é um filme onde os contrastes são evidentes. Até o anúncio do desaparecimento da filha, temos uma bucólica e acolhedora América emoldurada por uma suave paleta embranquecida pela neve ao som de uma trilha country religiosa. Tudo nos remete à um espírito de paz e tranquilidade, mas com uma leve sensação de desconforto latente. A espiral de VanDorm é gradativa conforme o degelo de sua sobriedade. A ilusão de um mundo perfeito vai derretendo a medida que ele penetra em um mundo desconhecido e degradante. A trilha muda para acordes mais graves e a fotografia adquire tons avermelhados e coloridos.
Os anos, no entanto, diluíram o impacto que este filme teve na época de seu lançamento. Visto hoje em dia, esta obra não passa de um thriller banal sobre o prazer permissivo com um viés extremamente moralista. Mas o mundo estava mudando e era preciso mostrar o lado B de uma América interiorana moralista e crente. “Hardcore – No Submundo do Sexo” foi a resposta de Schrader à hipocrisia de uma sociedade que vivia (e ainda vive) sob um manto de aparências.