Tommy / Eua, 1975. 111 min./ Direção: Ken Russel/ Com:Roger Daltrey/ Oliver Reed/ Ann Margret/ Tina Turner
A decadência do formato tradicional dos musicais se deu pelo final de década de 60. O mundo estava em efervescência e não havia mais espaço para cantigas melosas e números de dança coreografados com precisão milimétrica. Bob Fosse deu o pontapé inicial com “Cabaret” (1972) onde os números dançantes eram transferidos para um palco de uma boate decadente de uma Berlim pré guerra. No entanto em 1975, duas mudanças radicais abalariam as estruturas do gênero. O burlesco “The Rocky Horror Picture Show” mostrava como o rock podia ser um elemento liberador (e libertador) de um gênero engessado por décadas, tornando-se um fenômeno mundial. Mas foi “Tommy” que mostrou ao mundo o poder do rock progressivo e é considerado até hoje um marco da megalomania brega do rock dos anos 70 mudando definitivamente a maneira de encarar os musicais.
Surgido de um disco duplo lançado em 1969 pelo famoso grupo The Who, composto por Pete Townshend o filme conta a história de Tommy Walker, um menino que fica cego, surdo e mudo ao ver o pai matar o amante da mãe. Dirigido pelo histriônico Ken Russel, a narrativa em formato de ópera, traz um psicodelismo fenomenal com um elenco que mistura Oliver Reed, Ann Margret e Jack Nicholson com astros do rock como Roger Daltrey (integrante do The Who), Elthon John, Eric Clapton e Tina Turner .
O filme (e as letras) faz uma ácida crítica ao sistema envolvendo religião, estado, família, drogas, prostituição e vaidade repleta de elementos simbólicos, tudo isso embalado pelo fantástico som da banda. Ken Russel comanda este circo midiático, que se desdobra em episódios irregulares, com muita energia exigindo do espectador algo além da audição. Aqui o disco ganha proporções assustadoras mergulhando a platéia em dimensões lisérgicas e certa demência imagética. Este parque de diversões ainda é uma referencia para o cinema, pois representa um grande desafio de uma época repleta de transformações.
