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Carta de uma Desconhecida (Letter from an Unknown Woman) Eua , 1948 . 86 min

Direção: Max Ophüls

Com: Joan Fontaine, Louis Jordan, Mady Christians

O diretor alemão Max Ophuls era um esteta por excelência. Um cavalheiro que encarava o cinema como uma verdadeira arte. Seus filmes são obras perfeccionistas e carregadas de detalhes que fazem uma enorme diferença.

Provavelmente fugindo do regime nazista; ele migrou para os Eua em 1941 e ficou 10 anos na indústria cinematográfica. Carta de uma desconhecida faz parte deste período americano. O filme é baseado numa história do austríaco Stefan Zweig e adaptado para as telas por Howard Koch, que escreveu o polêmico texto radiofônico “guerra dos mundos” que Orson Welles narrou causando pânico na população.

No texto, Stefan desmembrava o ideal do amor perfeito e concentrava-o na figura da singela Lisa. Uma mulher que aos 17 anos encontrou o verdadeiro amor de sua vida e batalhou por ele até morrer.

O filme começa pelo final. Ao chegar em casa depois de uma noitada mal sucedida sendo convidado para um duelo, o fanfarrão Stefan Brand recebe a tal carta da desconhecida. As primeiras linhas da fatídica carta são: “Ao ler estas linhas, já estarei morta”. Revivendo 10 anos de seu passado, Stefan se dá conta da imensa perda e prejuízo que causou a tal desconhecida. O amor, no filme, não é um amor recíproco nem correlativo. É um amor incondicional sem impor nenhuma condição. Apenas é.

Lisa ama Stefan a distância e seus passos são todos voltados para estar ao lado do amado. Numa noite de Cinderela, Lisa consome o fato amoroso, que dura apenas uma noite. Stefan some nas brumas da vida e a deixa com o fruto de uma noite de intimidade. Após 10 anos de separação, Stefan encontra Lisa sem se dar conta que já a teve nos braços. Lisa sucumbe ao abandono e ao desprezo do amado e morre.

Stefan está arrasado após ler a carta e nós também. Como poderia haver tamanha dedicação amorosa? Como Stefan não se deu conta da imensa consideração e importância que Lisa sempre lhe dedicou? Stefan então vai para o duelo, certamente, com a intenção de perder. Os violinos crescem e Carta de uma desconhecida atinge seu propósito.

O filme atinge plenamente o objetivo de fazer refletir sobre a incondicionalidade do amor. Não entendemos o porquê de tanto sacrifício de Lisa, mas mesmo assim suspiramos por ela e com ela.

Max Ophuls filma este romance com maestria. Há inúmeros detalhes de um simbolismo único. Uma porta que se fecha uma carruagem que passa uma caminhada no parque. Ophuls não deixa absolutamente nada fora do contexto do romance casto. A fotografia prateada é um primor de perfeição. A música de Daniele Amfitheatrof extravasa toda a beleza do platonismo de Lisa.

Apesar de ser uma produção bancada pelo todo poderoso David O. Selzsnick é Ophuls que dá as cartas. Insistiu para Joan Fontaine protagonizasse Lisa, pois a via como a mesma pessoa. Joan, dona de uma beleza fragilmente clássica, tem uma qualidade impar de interpretação. Sua suavidade agradável e o jeito ameno e meigo, cativa de imediato nossa atenção. Joan empresta uma enorme veracidade a esta quase ninfa delicada. Louis Jordan faz o pianista mulherengo Stefan e sua elegância está perfeita.

Apesar de não ser um ator com grandes qualidades, Louis Jordan rende bastante nas mãos de Ophuls e mesmo conhecendo a safadeza e descaramento de seu personagem, temos pena de seu fatídico futuro. Sua morte é a rendição pelo seu desprezo ao maior amor que já existiu.

Carta de uma desconhecida é um primor do cinema. É arte pura, talhada por um verdadeiro artesão. Im-per-dí-vel para quem ama a 7ª arte.

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