Direção e roteiro adaptado: Stanley Kubrick/ Co-produção Estados Unidos e Reino Unido/ Ano de Lançamento: 1971

Podemos dizer que dentre os filmes que chocam por levantarem questões polêmicas, existem duas categorias: àqueles que você precisa ver pelo menos mais uma vez  após o susto inicial e os que você precisa de um tempo para assimilar. Particularmente, incluo o clássico de Stanley Kubrik nesse último caso. Talvez eu seja sensível demais, mas,  trata-se de um filme que – ao menos por enquanto – só tive coragem de assistir uma única vez. O excesso de violência, a estética diferenciada e uma linguagem repleta de neologismos incomodam. Entretanto, é impossível ficar indiferente.

Vamos à sinopse (pode ser que haja algum spoiler, então se preferir pule este parágrafo): Alex faz parte de uma gangue de delinquentes, que ataca, rouba e estupra apenas por prazer sádico. Ao ser preso, ele descobre que estão selecionando voluntários para uma pesquisa e, na esperança de livrar-se do encarceramento, se oferece como cobaia. Acontece que a experiência o faz sofrer ao causar mudanças não em sua personalidade, mas, em suas ações. Alex não pode mais fazer mal aos outros. Só que isso não foi uma escolha. É que cada vez que ele pensa em praticar um ato violento sente um horrível mal estar físico.

O filme levanta questões mais do que atuais, em um tempo no qual se discutem situações, como por exemplo, a validade ou não de um tratamento obrigatório – e alheio à vontade do indivíduo – para usuários de crack. Surge a pergunta: é ético dispor do corpo de outra pessoa ainda que para fins supostamente louváveis? Não quero entrar na polêmica em si porque aqui não é o espaço, mas, sem dúvida esse é um tópico que merece ser debatido. Assim como outras perguntas que surgem em nossa mente ao longo da projeção: Se bem e mal deixassem de estar relacionados ao livre arbítrio, como seria? Podemos dizer que alguém é bom apenas por deixar de praticar o mal?

Há ainda muito mais para se pensar. Uma amiga minha, professora de ética em psicologia, passou esse filme para seus alunos a fim de levantar um debate sobre bioética e experiências com seres humanos, algo que sempre dá pano pra manga. Além disso, o final toca em pontos como política e hipocrisia e merece uma reflexão.

Vou fazer uma confissão: quando terminei de assistir Laranja mecânica, eu simplesmente não sabia avaliar se gostei ou não. Permanecia a sensação de incômodo que mencionei no inicio, de que algo estava fora do lugar.  Talvez até um certo horror. Ao mesmo tempo, todas as questões mencionadas aqui pululavam em minha mente. E no fim das contas, não é isso que se espera de um bom filme? A única certeza: esse filme não virou um clássico por acaso e vale a pena assistir e tirar suas próprias conclusões.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui