Pode-se dizer que Nasce uma Estrela (A Star is Born) é um filme que acompanhou as inúmeras mudanças que o mundo enfrentou desde o século passado. Mudanças políticas, sociais e de comportamento – todas foram adaptadas para as 4 versões cinematográficas deste roteiro que segue atemporal.

O roteiro original foi escrito por em 1937, por William A. Wellman e Robert Carso, vencendo o Oscar daquele ano. Por tratar-se de uma história de amor e ascensão no show business, o argumento tornou-se mais adaptável para diferentes épocas, com alterações apenas no ponto de vista comportamental de cada nova geração. Com a estreia do primeiro filme em 1937, o segundo em 1954, o terceiro em 1976 e o quarto em 2018, podemos perceber a discrepância entre os costumes sociais de cada época – tornando este filmes, além de entretenimento, ótimos porta-vozes de suas gerações.

 

Os tempos sombrios da Grande Depressão

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Após a quebra histórica da bolsa de valores de Nova York, em 1929, os Estados Unidos e outros países do mundo se viram em um período de grave escassez econômica. Como a fonte eterna de inspiração e no auge do american way of life, o cinema foi uma das saídas para levar alegria e esperança novamente para a população. No entanto, os filmes norte-americanos deste período não conseguiam, completamente, se afastar do sentimento de tristeza e de sonhos destruídos – e a atmosfera de Nasce uma Estrela representou muito bem o estado de espírito daquele momento.

Neste contexto, Esther (Janet Gaynor) parte da Dakota da Norte com o apoio de sua avó para tentar ser um estrela de Hollywood. Na cidade, misticamente conhecida como a boulevard of broken dreams (avenida dos sonhos despedaçados), ela é desmotivada de várias formas, contudo, consegue ser notada ao trabalhar como garçonete em uma festa, onde conhece Norman Maine (Fredric March), seu futuro marido que irá ajudá-la a se tornar a grande estrela que sempre sonhou. No entanto, o filme retrata muito bem a era do Studio System, período no qual os estúdios controlavam absolutamente todos os passos dos seus atores e atrizes contratados. Na história, a aspirante passa pela mudança de aparência, de nome e até de sua origem, e é controlada diariamente pelos jornais e os estúdios de produção.

Logo após a estreia do seu primeiro filme, Esther torna-se uma estrela do cinema, enquanto Norman é esquecido pelos produtores. A partir disso, começa a se sentir destruído e inferiorizado, por conta do seu ego masculino ferido – o que era muito comum entre os homens, especialmente no show business.

 

Golden age: A era dos musicais 

Judy Garland Dominates ‘A Star is Born’ (1954)

Em 1954, no período de pós-guerra, pode-se afirmar que a autoestima e o clima de confiança já havia retornado a América. Desta forma, os filmes eram o reflexo deste período de otimismo. O retrato perfeito deste estado de espírito não poderia ser diferente: os musicais. Filmes como Cantando na Chuva (1952) e Corações Enamorados (1954) eram os mais populares do momento. Por isso, esta versão tornou-se uma das mais conhecidas deste roteiro, estrelado por Judy Garland e James Mason. Além do aumento da duração para 2h55 minutos, a versão musical caracteriza a história com pitadas cômicas e exibe muitas cores, tornando a estética do filme muito mais positiva do que a anterior. Quanto a narrativa, a personalidade dos personagens permanece praticamente a mesma.

 

Feminismo, revolução e rock n’ roll 

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Nesta versão setentista estrelada por Barbra Streisand, o roteiro sofreu mudanças bruscas de comportamento. A passividade da personalidade de Esther desaparece completamente, dando à personagem a atitude e a confiança típica das mulheres que lutavam pela igualdade salarial e pelos mesmos direitos sociais dos homens. No entanto, a decadência de seu marido, interpretado por Kris Kristofferson, se espelha na vida conturbada de grandes artistas masculinos da época, como Jimi Hendrix e Jim Morrison. O grande charme desta adaptação é observar a revolução comportamental que dominou os anos 1970, refletida muito bem na caracterização dos personagens. Tal como a evolução dos papéis do homem e da mulher em todas as esferas da vida: no amor, na individualidade, na amizade ou no trabalho.

 

O amor no novo milênio

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Assumindo a direção e parte do roteiro, Bradley Cooper traz de volta esta história que parece ter a fórmula do sucesso. Com Lady Gaga como protagonista, o nome Esther é alterado para Ally e Norman é alterado para Jackson (nomes mais comuns nesta geração) e, ao invés de apresentar o seu personagem como o homem orgulhoso, poderoso e estável financeiramente que ajuda sua amada a alcançar o sucesso comercial – assim como nas outras versões – Cooper compõe seu protagonista de forma real e humana: Jackson tem uma história, é um homem de carne e osso, com sentimentos, desejos, qualidades e defeitos – e olha para Ally de forma igual, tornando-se seu parceiro não apenas na busca de um sonho, mas também na vida.

 

Nasce uma Estrela estreou nos cinemas brasileiros no dia 11 de outubro.

 

 

Ficha Técnica

 

Elenco: Andrew Dice Clay, Andrew Michaels, Anthony Ramos, Bonnie Somerville, Bradley Cooper, D.J. ‘Shangela’ Pierce, Dave Chappelle, Frank Anello, Geronimo Vela, Jacob Taylor, Lady Gaga, Michael Harney, Rafi Gavron, Rebecca Field, Sam Elliott, Steven Ciceron, Willam Belli.

Direção: Bradley Cooper

Roteiro: Alan Campbell, Bradley Cooper, Dorothy Parker, Eric Roth, Robert Carson, Will Fetters, William A. Wellman.

Distribuidora: Warner Brothers Pictures

 

 

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