O Cinema para Sempre entrevistou por telefone o diretor Francisco Garcia que dirigiu o filme Borrasca, distribuído pela Fênix Filmes. O filme estreou no dia 02 de maio. Vamos conferir a entrevista.

 

CPS: – Eu queria saber primeiro porque você resolveu levar para o cinema a Peça de Teatro?

 

FG: – Primeiro que eu gosto de Teatro, Andréa, acho que teatro é o ponto principal, na verdade, um assíduo frequentador dos teatros independentes de São Paulo. Faz alguns anos que nessas minhas andanças pelos teatrinhos do centro de São Paulo eu conheci Mário Bertolutto, inclusive ele foi ator de um curta meu uns 10 anos, e a partir dali eu conheci a obra do Mário. E no fato de ter presenciado a grande parte da obra dele nos palcos, eu conheci a peça Borrasca, onde são dois amigos presenciando e atuando acima de tudo falando sobre a relação da morte, que é algo que me interessa muito. A partir do momento que eu tive a oportunidade de ver esse texto sendo encenado eu achei que ele caberia muito bem para um filme de baixo orçamento. Sendo que esses dois atores poderiam fazer o filme. E a partir daí,  a gente acabou pensando na possibilidade de filmar esse texto e as coisas acabaram caminhando para que acontecesse. E foi o que aconteceu num filme de baixo orçamento.

 

CPS: – Como você optou pela escolha do apartamento e os atores em um ambiente minimalista e transformar isso em algo mais cinematográfico?

 

FG: –  O teatro do Mário é considerado um teatro realista como a gente chama. Se eu levasse para um estúdio cenografado, no estilo “Dogville”, ele destoaria do universo realista. Então na verdade eu precisava ter essa veracidade dentro do universo e além de ser como já te falei, um filme que foi concebido para ser um filme de baixo orçamento então levar isso para um apartamento aonde já tivesse conceitos cenográficos estabelecidos me facilitaria muito. Eu acho que tudo convergiu para que levasse para um caminho de um filme com um contexto realista mesmo.

 

CPS: – O filme tem um texto muito rebuscado, muito elaborado para ambientação. O conflito entre o ambiente mais simples e o texto rebuscado limita mais o público. O filme é mais textual do que visual. É um debate o tempo inteiro dos personagens. Ainda tem um terceiro personagem que está presente no texto sem estar presente em cena. Você fez alguns ajustes de linguagem de teatro para cinema?

 

FG: –  Isso é muito claro a partir de quando você tem que adaptar de um código para o outro, alguns ajustes são extremamente necessários, principalmente cenográfico mais realista possível. Então por exemplo aqueles quadros que estão   colocados naquele espaço por exemplo, são quadros que eu sabia que faziam parte do universo do Mário Bertoloto e do cemitério de automóveis. Na verdade, tem um contexto ali, que já faz parte inerente da obra do Mário. Então eu não queria descontextualizar a obra do autor. O tempo todo eu quis ser fiel a esse universo. E sobre essa questão do texto está o tempo todo falando de um outro personagem, isso na verdade, é onde eu não poderia descaracterizar a obra. Se eu descaracterizasse a obra, eu não estaria sendo fiel a obra e a proposta do autor. O que eu considerei com o Mário a todo momento é que eu não descaracterizaria esse universo que ele tinha feito no teatro. Por mais que eu estivesse estabelecido uma relação formal, cinematográfica dentro de um contexto teatral eu falei que seria fiel, e foi o que eu o fiz. A obra dele como um todo tem uma característica muito particular no quesito dos diálogos caberem na boca do ator. São diálogos muito fluidos e realistas. É diferente de colocar um Tchov na boca de um ator que você perde um pouco essas reações. Então eu falei que seria fiel a esse contexto e foi o que eu fiz até o final.

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