Folhas Mortas (Autumn Leaves) /Eua, 1956. 108 min. / Direção: Robert Aldrich / Com: Joan Crawford, Cliff Robertson, Vera Miles, Lorne Greene, Ruth Donnelly

 

Os anos 50/60 foram decisivos na carreira das grandes divas de Hollywood. A idade e a escassez de bons papéis obrigavam algumas atrizes a procurar roteiros que trouxessem alguma fagulha de glamour. Em 1956, Joan Crawford já não era a grande estrela da Metro e Warner, mas isso não a impedia de se comportar como uma diva.

 

Em “Folhas Mortas” (Autumn Leaves no original), ela interpreta Millicent Wetherby, uma solteirona de meia idade que abriu mão da felicidade conjugal para cuidar de seu pai doente. Sua existência solitária muda completamente quando conhece Burt Hansen (Cliff Robertson), um carismático rapaz muito mais novo, cujo passado é uma incógnita repleta de traições e mentiras.

 

Típico melodrama dos anos 50, Joan Crawford está à vontade como uma mulher sofredora e apaixonada, campo que conhecia muito bem. Dona de uma técnica interpretativa antiga e de um temperamento forte, a atriz carrega nas expressões, mas sempre nos fazendo crer que sua angústia e martírio são verdadeiros, apoiada por um excelente elenco de apoio incluindo o quase novato Cliff Robertson (aqui em seu segundo papel principal), como um jovem atormentado por uma profunda depressão traumática. Com a assinatura de Robert Aldrich (que repetiria a parceria com a atriz anos mais tarde, no polêmico “O que terá acontecido com Baby Jane?”) o filme teve várias interferências da estrela, mas desta vez com resultados bem positivos. Joan alterou algumas falas, exigiu o corte de algumas sequências e sugeriu que Marlon Brando fosse seu parceiro, que acabou recusando o convite por não estar interessado em filmes sobre mães e filhos.

 

Robert Aldrich, que ganhou o Leão de Prata no Festival de Berlim em 1956 por este trabalho, faz o que pode com o material folhetinesco e nos entrega um romance noir sobre solidão e incesto levantando uma interessante questão sobre relacionamentos pouco ortodoxos, assunto ainda tabu nos dias atuais. Sem sutilezas narrativas, o diretor apresenta sinais de maturidade cênica em várias sequências (incluindo uma homenagem explícita ao clássico “A um passo da eternidade” de Fred Zinnemann) e naquelas que destacam o rosto da atriz sempre fotografada com requintes pelo mestre Charles Lang (18 vezes indicados ao Oscar sem nunca ter ganhado a estatueta).

O título original (The Way We Were) foi alterado para pegar carona no sucesso da canção “Autumn Leaves” interpretada por Nat King Cole que abre e fecha esta fábula romântica, melosa e visceral sobre um casal disfuncional cujo final feliz é conquistado após muito sofrimento. É um filme que enaltece o imaginário romântico construído por uma Hollywood que estava prestes a entrar numa década conturbada, sem espaço para grandes estrelas como Joan Crawford.

1 COMENTÁRIO

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui