O Barco das Ilusões (Show Boat) / Eua, 1951. 108 min / Direção: George Sidney / Com: Kathryn Grayson, Howard Keel, Ava Gardner, Joe E. Brown, Agnes Moorehead, William Warfield

 

Produção com todos os requisitos clássicos da Metro Goldwin Mayer, estúdio que investia pesado em musicais requintados e luxuosos,“O Barco das Ilusões” (Show Boat no original) é a segunda versão do romance de Edna Ferber (filmado anteriormente em 1936 com Irenne Dunne e Allan Jones) e adaptado do musical de grande sucesso da Broadway.

 

Nesta suntuosa versão de 1951, indicada a dois Oscar (Melhor fotografia em cores e trilha sonora), tudo é exuberante desde o rico vestuário, impecável produção técnica culminando nas melodiosas canções de Jerome Kern e Oscar Hammestein II – dupla responsável pelos mais belos musicais da Broadway dos anos 30/40.

No elenco, Ava Gardner, com 28 anos, no apogeu de sua beleza animalesca, é Julie Laverne, uma mestiça (???) obrigada a esconder seu amor por um homem branco e condenada a uma vida mundana. Kathryn Grayson e Howard Keel formam o casal apaixonado (Magnolia e Gaylord), que juram amor eterno até a hora que a grana acaba pois a ideia do homem bem sucedido e provedor era um conceito muito forte décadas atrás.

Visto hoje em dia, o filme impressiona pelo conteúdo misógino e racista embutido nas entrelinhas do argumento. Os negros são todos serviçais abobados que aparentam felicidade sem destaque na trama com exceção do solo do barítono negro William Warfield entoando a triste canção Ol’ Man River. As mulheres são retratadas como seres caseiros, dependentes da vontade masculina e seu único desejo é o casamento, submissão e perdão ao macho alfa (mesmo que este abandone o lar por 6 anos e retorne sem se desculpar).

Mesmo assim, “O Barco das Ilusões” continua sendo um deleite cinematográfico e mostra  como os grandes estúdios dominavam o imaginário social com suas mensagens ingênuas mas profundamente preconceituosas. Um filme impensável para os dias atuais onde os conceitos de emponderamento feminino  e resistência étnica são primordiais, mas na época representavam os ideais da sociedade pós guerra.

Curiosidade: O barco construído para o filme, conhecido como Cotton Blossom, virou atração de um parque temático em 1973 em Kansas City, quando a Metro vendeu seu acervo para pagar suas enormes dívidas e está lá até hoje.

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Zeca Seabra – Cinéfilo carioca com formação em Comunicação Social pela Puc em 1980 e em Hotelaria pela Estácio de Sá em 1983. A partir de 1995 participou de vários cursos e em 2006 começou escrevendo textos críticos para o blog paulista “Cinema com Pipoca”, um dos primeiros a tratar do assunto. Desde 2010 participa de debates e encontros com textos já publicados em catálogos de mostras especializadas. Em 2016 participou da oficina crítica cinematográfica com o renomado crítico francês Jean-Michel Frodon. É membro da ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro) desde 2013 e crítico do site Almanaque Virtual.

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