Olhem quantos filmes da incrível e saudosa cineasta Agnes Varda estão disponíveis na plataforma do Telecine Play, por enquanto aberta para todos como benefício para ajudar na quarentena. Estes e muito mais estão à disposição gratuitamente durante tempo limitado.

Os Renegados é um olhar brilhante sobre uma jovem mulher desgarrada da sociedade por opção, vivendo as próprias regras e não se dobrando a nada nem ninguém numa incrível interpretação de Sandrine Bonnaire, com travellings laterais que pontuam a narrativa acompanhando a protagonista sempre da direita para a esquerda, saindo da razão para a emoção (até porque Varda era cineasta conhecida por fazer parte da Rive Gauche da Nouvelle Vague).

As duas faces da felicidade desaba com a estrutura familiar típica colapsando o olhar tradicional sobre os arquétipo sociais. E Varda mais uma vez utiliza a linguagem de forma inversamente proporcional à ironia da história, fazendo uma narrativa extremamente colorida e alegre em seu formato, mesmo que o conteúdo seja criticamente denso. Até a trilha sonora é leve, toda de Mozart, independente de as personagens entrarem numa espiral de destruição.

Primeiro longa-metragem de Varda, La Pointe Courte é uma das maiores pedras fundamentais da Nouvelle Vague, quiçá a maior, antes mesmo de outras obras paradigmáticas como Hiroshima Mon Amou do Resnais ou Acossado dirigido por Godard e com roteiro feito junto a Truffaut… Um feito histórico que a própria Cahiers du Cinéma demorou muito a creditar Varda e só veio reconhecer neste século. Neste filme de 1954, Varda estava fazendo uma espécie de documentário sobre a região pesqueira de La Pointe Courte, quando decide filmar uma “DR” de casal em narrativa ficcional no meio do doc, mesclando as duas linguagens como gostaria de fazer a carreira inteira. Tudo por causa da inspiração da separação de seu primeiro companheiro (antes de Jacques Demy), e chamou Philippe Noiret (em seu primeiro protagonista na telona, que viria a ser o astro de “Cinema Paradiso” e “O Carteiro e o Poeta) e Silvia Monfort (da versão de “Os Miseráveis” de 1957) para interpretar esses textos.

Cleo de 5 às 7 é outra de suas obras paradigmáticas, essa sim já notoriamente reconhecida dentro da Nouvelle Vague, até por seus companheiros de movimento (que eram super excludentes e não reconheciam quase nenhuma mulher cineasta). Muito antes do seriado de TV contemporâneo “24 Horas” com Kiefer Sutherland interpretando Jack Bauer, havia este filme inaugurando a famosa linguagem do “tempo real” no cinema. Isso não quer dizer plano sequência, atenção! Há cortes na montagem! O “tempo real” significa que a passagem de tempo no filme imita o tempo da vida real, de 5 Às 7.

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