Três lançamentos nada atuais nos serviços de Streaming que vale a pena conferir.

Do the Right Thing (1989)

Se tem um filme importante de se rever nesses tempos é esse. É um clássico, surpreendentemente mal avaliado no IMDB, mas o que as pessoas sabem? Merecia ter levado o Oscar de 1990, mas a Academia escolheu a servidão de Conduzindo Miss Daisy no lugar da reflexão. Spike Lee conseguiu levantar a importante discussão sobre a questão racial na América com maestria mas nem todo mundo queria ou estava pronto para ouvir.

Apesar da sua força, que já consegue ser vislumbrada na entrada, a  estrutura do filme é delicada. Em volta da história principal, onde temos poucos personagens envolvidos de fato, todos os pequenos acontecimentos que levam a escalada da tensão racial em Bed Stuy são vividos como sketches guiados por coros. O coro dos porto riquenhos, o coro dos coreanos, o coro dos afro-americanos de meia idade, o coro dos jovens afro-americanos, o coro dos policiais, e, o coro de um homem só, Mister Señor Love Daddy.

Esses coros, com pequenas diferenças entre seus participantes, mas com claros conflitos uns com os outros, vivem seus pequenos dramas para depois agirem como uma manada no apoteótico final do filme.

Os personagens principais e seus dramas humanos acabam escondidos como jóias raras nesse caldeirão de conflito racial. Ao mesmo tempo preciosos, frente à explosão final de violência parecem menores mas essenciais. Quase não atentamos, por exemplo, para as singelas tentativas de romance entre o Da Mayor e Mother Sister, e Sal e Jade, que pontuam as poucas tentativas de união frente à tragedia anunciada. O fator humano, ao mesmo tempo que se apequena frente ao drama social, é o que dá sentido a tudo que não conseguimos entender.

Indicação: Para quem precisa pensar sobre o que é fazer a coisa certa.

Onde assistir: Telecine Play.

Expresso do Amanhã (2013)

Tem um ramo da ficção científica que precisa voltar: a FC de crítica social. Nos anos 60 e 70, talvez influenciada pela New Wave na literatura, tivemos grandes filmes dentro desse gênero. Expresso do Amanhã meio que se pretende a fazer parte desse gênero, mas não brilha.

A história, super alegórica e baseada numa graphic novel, mostra o que restou da humanidade após uma tentativa mal sucedida de mexer com o clima. Os poucos sobreviventes vivem dentro de um trem que circula o globo, literalmente em círculos, e que reproduz a desigualdade social de sempre com uma “elite” vivendo nababescamente na frente do trem enquanto os pobres se amontoam nos vagões traseiros.

Ao descobrir que os guardas que servem aos opressores não tem munição, a população pobre se revolta e Curtis, vivido por Chris Evans, faz uma viagem de descoberta pelos vagões para confrontar Wilford, o líder e inventor do trem, interpretado por Ed Harris.

O ritmo do filme é bom, as interpretações sólidas, as situações interessantes, mas Expresso do Amanhã é didático ao extremo e comete o erro clássico da FC de crítica social: não aponta caminhos pros dias de hoje e deixa tudo na mão da aleatoriedade, o famoso “a vida cuida de si mesma”. Alertar para os problemas talvez não seja o suficiente. Precisamos propôr soluções.

Indicação: Pra quem precisa ser lembrado que a desigualdade e os conflitos sociais não são um erro no sistema mas DO sistema.

Onde assistir: Amazon Prime.

O Grande Lebowski (1998)

Quando se fala desse filme, todo mundo lembra do humor, das frases antológicas, da quantidade de palavrões e cigarros de maconha, da preguiça do Dude, vivido magistralmente por Jeff Bridges, ou do incrível elenco de apoio liderado por Julianne Moore, Steve Buscemi e John Goodman. O que ninguém parece perceber é que o Grande Lebowiski, filme cultuado e icônico dos irmãos Coen, é uma obra politicamente super importante.

Sério. Por trás da mensagem Zen Taoista do relaxado Dude há um conflito político. Passada no início da Guerra do Golfo, o que é mencionado vez ou outra não à toa, a história nos faz acompanhar o conflito de Jeffrey Lebowski, o Dude, contra uma América que se transformou num monstro patético e risível de ganância e violência. O Dude, depois de ter seu tapete urinado por dois capangas que buscavam o seu homônimo, confronta o outro Jeffrey Lebowiski para reaver o que acha do seu direito. Acaba envolvido numa trama detetivesca noir que ele mesmo não entende, incluindo niilistas alemães, pornógŕafos e um rapto que não houve.

E onde está a política nisso? Eu explico. O Dude representa a América do Flower Power que não venceu a revolução cultural dos anos 60. Escondido em sua rotina de maconha, white russians e boliche ele acaba sendo trazido de volta para atender aos desejos de uma elite perversa. Na tentativa de buscar a paz, representada pelo tapete que dava sentido à sua sala, ele se torna o peão de um jogo entre gente sem escrúpulos e sem coração. Já dá pra imaginar o resultado.

No final, o Dude apesar de não ganhar nada, permanece. Como símbolo, nos lembra que, mesmo que o cenário político e social seja ingrato, o que somos e o que (não) realizamos faz toda a diferença.

Indicação: Pra nos lembrar que não entrar em conflitos pode ser uma forma de vence-los.

Onde assistir: Amazon Prime.

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