Três lançamentos nada atuais nos serviços de Streaming que vale a pena conferir.

O Primeiro Ano do Resto das Nossas Vidas (1985)

Deve ser dureza. Você morre e só lembram de você pelas suas pisadas na bola. Joel Schumacher é vítima disso. Desagradou os fanboys batmaníacos e foi condenado eternamente ao purgatório do cinema. Uma injustiça. Não vou dizer que gosto dos filmes do Batman dele, mas a sua filmografia tem algumas coisas bem legais.

Um exemplo é O Primeiro Ano do Resto das Nossas Vidas. É um daqueles filmes clássicos dos anos 80 sobre adolescência prolongada. Um grupo de amigos bem de vida acaba de sair da faculdade e é obrigado a lidar com a vida adulta que estava evitando. Na verdade, confesso, os personagens são bem deploráveis.O pior é o jornalista que trabalha na sessão de obituários e busca o sentido da vida em conversas com prostitutas. Acho que isso dá uma boa ideia do restante do grupo.

Mas o filme fez bastante sucesso na época. Tinha o star power do Brat Pack, com 3 atores vindos diretamente de O Clube dos Cinco, e Demi Moore estava adorável no filme. Ela fez o melhor possível com a personagem bidimensional que lhe entregaram. Mais do que se pode dizer do restante do elenco, especialmente de Rob Lowe que ganhou a Framboesa de Ouro de pior ator coadjuvante por esse filme.

Na verdade, talvez esse não seja um bom exemplo pra absolver o Joel. É um filme ruim, mas assistível. Talvez por mérito do diretor. Isso já conta, não?

Indicação: Para quem é jovem, bonito, rico e vive com crises existenciais.

Onde assistir: HBO GO.

Um dia de Fúria (1993)

Um Dia de Fúria, como Clube da Luta, é um filme que tem um culto em volta dele pelas razões erradas. Pode conferir, todo mundo que gosta de citar esse filme, em especial nas filas dos fast foods da vida, não só aceita como apoia as ações do protagonista, William Foster, vivido com estóica tristeza por Michael Douglas. Um Dia de Fúria, que era pra ser uma reflexão sobre os conflitos sociais e raciais nos Estados Unidos, é reverenciado como uma fantasia de vingança do homem branco, heterosexual, de classe média.

O fiapo de história só existe pra juntar um bando de esquetes violentos. William Foster, um homem de meia idade, recém separado e num emprego medíocre, um dia chega ao seu limite depois que o ar condicionado do seu carro quebra num congestionamento durante um dia de calor escorchante. Transtornado, ele abandona o carro e caminha em direção a sua casa, ou, melhor, da ex-mulher que tem uma ordem de restrição contra ele. No caminho ele entra em contato com tudo que está de “errado” com os Estados Unidos e reage como um sujeito do qual lhe foram retirados os privilégios: com violência e sem um pingo de sensibilidade. Essa Odisséia às inversas acabou virando, talvez sem intenção, um elogio à tentativa de resgatar o direito e o poder perdido pelos WASPs americanos. Quase uma nostalgia dos anos 50. Novamente pelas razões erradas.

Imagino que Joel Schumacher quisesse fazer uma espécie de “Faça a Coisa Errada”, mostrando a vilania da tentativa de se recuperar os Estados Unidos pré Direitos Civis, mas acabou gerando um herói para os conservadores, xenófobos e machistas. Um tiro pela culatra.

Ah, Robert Duvall aparece e tenta dar um pouco de elegância ao filme mas o personagem esterotipado do policial a um dia de se aposentar não permite.

Indicação: Pra quem precisa entender que o D-FENS é o vilão do filme e não o herói.

Onde assistir: HBO GO.

Garotos Perdidos (1987)

Na segunda metade dos anos 80, houve um ressurgimento dos filmes sobre vampiros. Alguns são excelentes como o esquecido Quando Chega a Escuridão, de Kathryn Bigelow, alguns simples porcarias, mas alguns razoáveis fizeram muito sucesso como Garotos Perdidos.

Emprestando seu nome da história de Peter Pan, Garotos Perdidos conta a história de uma família de pais separados, sempre eles, que se muda para morar com o avô hippie e se envolve com um grupo de vampiros no litoral da Califórnia. É uma metáfora rasteira para o envolvimento de adolescentes com drogas ou com sexo precoce, mas funciona direitinho. Jason Patrick e Kiefer Sutherland, o vampiro neófito e o chefe da gangue de sanguessugas, antagonizam e competem pelo amor de Star, vivida por uma Jami Gertz apática, enquanto a cidade assolada por “desaparecimentos” continua festejando todas as noites em shows com saxofonistas cheios de esteróides.

Tem seus momentos, em especial na borda do filme. Dianne Wiest brilha como a mãe retomando a vida depois do divórcio; o plot do irmão mais novo vivido por Corey Haim, em mais uma dupla com Corey Feldman, é super divertido; a trilha sonora é clássica e retoma várias pérolas dos anos 60 para os 80; e a estética misturando gótico, punk e hippie arrebenta. Mas não é essas coca colas todas. É divertido, cheio de situações roubadas mais de Alice no País das Maravilhas do que de Peter Pan, mas sempre dá a sensação de que poderia ser muito melhor.

Sem spoiler, a última frase do filme, dita pelo avô, resume tudo: “A única desvantagem de se morar em Santa Carla que eu nunca pude suportar são esses malditos vampiros”. É, os vampiros que eram pra ser interessantes, não passam de um aborrecimento. Preciso dizer algo mais?

Indicação: Pra nos lembrar que “people are strange”.

Onde assistir: ITunes (aluguel e venda).

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