Três lançamentos nada atuais nos serviços de Streaming que vale a pena conferir.

Ricky Bobby: a Toda Velocidade (2006)

 

Na época que eu tinha um sebo, conheci um crítico de cinema que colecionava filmes estrelados por participantes do Saturday Night Live. Ele mesmo não conseguia explicar essa mania. Afinal como colocar no mesmo pacote o genial O Panaca, com Steve Martin, e o constrangedor Taxi, com Jimmy Fallon? Era apenas um hábito estranho, mas essa curiosa obsessão me fez prestar atenção nesse filão. E foi assim que descobri que havia algo mais profundo do que parecia nos filmes de Will Ferrell.

A primeiro em que percebi isso foi Ricky Bobby. Nesse filme,  Ferrell interpreta, adivinhem, Ricky Bobby, um piloto campeão da Nascar, o automobilismo redneck, a.k.a. caipira, norte americano, que, após ver o seu sucesso ameaçado por um piloto europeu e gay vindo da fórmula um, vivido com elegância e humor por Sasha Baron Cohen, acaba batendo durante uma corrida e surta. Em completa depressão por não se ver mais como um vencedor, ele perde a mulher, o dinheiro, a fama, os amigos e é obrigado a reconstruir sua vida voltando para a casa da mãe com os filhos, onde precisa encarar seu problema com a figura paterna.

Parece banal e, olhando pro plot, até é, mas o filme brilha nos detalhes. A composição dos personagens e das situações motivadas pelo conflito do americano médio contra o europeu elitista e esterotipado criam uma sátira cirúrgica sobre os Estados Unidos e seu pretenso destino manifesto. A cena da refeição em família onde Ricky Bobby agradece a Deus pelas comidas citando as marcas, descrevendo a esposa de forma picante e discutindo como imaginam o Jesus bebê é um primor. Óbvio que no final faz as suas concessões ao sentimentalismo mas não são tão clichê como a média.

É o tipo de filme que se o Trump assistisse acharia ser um drama sério sobre o America First, mas a gente sabe que é uma crítica braba e esperta.

Indicação: Para quem não perdeu a esperança que existe salvação pra quem ainda apoia o Trump, aqui e lá fora.

Onde assistir: Globo Play.

Escorregando para a Glória (2007)

Só pela premissa esse filme precisa ser assistido. Dois patinadores artísticos de temperamentos opostos, proibidos de participar das competições individuais por colocarem em risco a vida do mascote olímpico após uma briga, se unem para competir como uma dupla no gelo. Detalhe: são dois homens, interpretados por Will Ferrell e Jon Heder, de Napoleon Dynamite.

Segue a mesma estrutura de outros filmes de Ferrell: ídolos populares e bem sucedidos, após chegarem ao fundo do poço por conta de seus pecados, precisam se reerguer e vencer seus próprios demônios. Não é tão bom como O Âncora ou Ricky Bobby, mas tem sua graça.

Jon Heder faz uma boa dupla e contraponto com Ferrell, o desafio de realizar a mais difícil manobra de patinação artística do mundo, a Lótus de Ferro, rende boas piadas, mas o quem rouba o show são os antagonistas: os irmãos Van Waldenberg, um casal incestuoso interpretado por Amy Pohler e Will Arnett que eram, inclusive, casados na época. Só a apresentação deles evocando o relacionamento de John Kennedy e Marilyn Monroe já vale o filme.

Indicação: Pra matar as saudades das Olimpíadas de Inverno.

Onde assistir: Netflix.

O Âncora 2: Tudo por um Furo (2013)

Eu sei que o primeiro O Âncora é incrível. Todos nós conhecemos os memes, curtimos os momentos surreais, as participações especiais na batalha das equipes dos telejornais, os diálogos claramente improvisados, como se o roteiro tivesse sido construído em cima dos erros de gravação; mas, confesso, prefiro o segundo filme.

Sim, é mais uma história de queda e recuperação de Ron Burgundy, as cenas surreais continuam surpreendentes, temos uma segunda e incrível batalha entre equipes, e o time de comediantes capitaneado por Will Ferrell continua afiado na improvisação; mas é a sátira ao jornalismo de entretenimento que o faz genial.

Dessa vez Ron é demitido, se separa da esposa por ciúme profissional e, após receber a proposta de participar de um novo canal com 24 horas de notícias, onde diabos já se viu isso?, ele reúne a velha trupe e transforma negativamente o telejornalismo.

O distanciamento histórico funciona bem e exacerba como é ridículo o atual pseudojornalismo sensacionalista que domina o fim de tarde da TV aberta. A sua criação ser atribuída a Ron Burgundy torna tudo ainda pior, pois sabemos que ele fez tudo por ignorância, o que evidencia ainda mais a má intenção e falta de ética dos alunos da escola de dança do capiroto. Pra rir e pensar onde nos metemos. Imperdível.

Indicação: Pra gente rir, pra não chorar, do excesso de informação inútil e fake news a que somos submetidos todos os dias.

Onde assistir: Netflix e GloboPlay.

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