Mamma Roma (idem) / Itália, 1962. 106 min. / Direção: Pier Paolo Pasolini / Com: Anna Magnani, Ettore Garofolo, Franco Citti, Luisa Loiano

O polêmico poeta italiano Pier Paolo Pasolini era crítico ferrenho da moral burguesa e seus filmes, hoje tidos como de vanguarda, eram considerados profanos e polêmicos para uma platéia acostumada ao technicolor e a leveza importada de Hollywood.  “Mamma Roma” (1962), seu segundo filme, desponta como uma obra onde todos os aspectos de seu criador estão presentes (sexo, religião e política) tornando-se uma fábula rude e metafórica sobre a situação econômica e social da Itália no início dos anos 60, quando a população, depois de um período traumático, voltava a acreditar em um futuro melhor.

A prostituta de meia idade, a determinada Mamma Roma, festeja no casamento de seu cafetão Carmine (Franco Citti), sua liberdade recém adquirida. Ela acredita estar reconquistando o espaço perdido após duas décadas de meretrício e sua escalada social é coroada com a volta de seu único filho, o adolescente Ettore (Ettore Garofolo) e a mudança para um subúrbio em ascensão que convive entre ruínas e aterros. Roma é vista ao longe como uma miragem daquele mundo imperfeito que resiste aos trancos e barrancos. Mas esta aparente felicidade é apenas um ensaio da tragédia que está por vir.

O diretor desconstrói o arquétipo da felicidade ao centrar a história na figura poderosa de Anna Magnani que explode na tela com suas olheiras profundas, cabeleira desgrenhada e risada rouca. Mesmo pressionada para voltar às ruas para pagar as dividas de Carmine e cuidando para que Ettore não volte para a marginalidade, Mamma Roma (uma alusão aos dois maiores símbolos italianos) mantém uma fé inabalável que dias melhores virão, mesmo que todo o contexto diga o contrário. A visão de Pasolini sobre a realização de sonhos é funesta, poética e provocativa sublinhando a tendência de um artista preocupado em destilar a essência de suas crenças.

Todo filmado nas ruas (resquício da evolução do movimento neo realista) esta ópera trágica marginal embalada pelos acordes de Vivaldi, é um poderoso retrato de uma geração sofrida e calejada pelo infortúnio muito bem representada por um cineasta indignado e inconformado com a injustiça humana.

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