Três lançamentos nada atuais nos serviços de Streaming que vale a pena conferir.

Caindo na Real (1994)

Eu não tinha percebido isso até pouco tempo, mas eu cresci, ou envelheci ,junto com o Ethan Hawke. A primeira vez que o encontrei foi em Explorers, aquele filme bem estranho com o River Phoenix sobre meninos que constroem uma nave espacial para escapar das suas péssimas realidades. Na época eu também era um pré-adolescente que usava a ficção científica para lidar com minhas emergentes questões existenciais. Quatro anos depois eu escrevia poesia compulsivamente e vi Hawke como um estudante introvertido na sala do Mr. Keatings em A Sociedade dos Poetas Mortos. Óbvio que me sentia identificado com ele.

Cinco anos depois eu estava começando o curso universitário sem o menor ambição ou visão de futuro e mais uma vez esbarrei com ele em Caindo na Real. No filme de estréia do Ben Stiller na direção, Hawke interpreta Troy, um jovem recém formado que lê filosofia existencialista demais, toca numa banda medíocre, se esconde em empregos pouco desafiantes e dorme nos sofás dos amigos. Mais ou menos como quase todo mundo que curtiu o movimento grunge na época. A sua personagem não é o protagonista, a personagem da Winona Ryder, a ambiciosa mas depressiva Leilana, é, porém ele resume bem todos os conflitos que a minha geração passou, ou, quem sabe, ainda passa.

O filme se pretende a mostrar a realidade da Geração X, o patinho feio dos conflitos geracionais. Sem ambição, sem futuro, sem expectativas, os personagens se movem num mundo boomer que não foi feito pra eles. Apesar de ter momentos de muita doçura, em especial os registrados no documentário de Leilana, é um filme amargo e cruel. O ápice da crueldade é justamente quando a ambição de Leilana permite que transformem seus amigos numa caricatura e seu documentário num videoclipe. Mais anos 90 impossível.

Indicação: Pra quem precisa lembrar que já vivemos durante muito tempo sem ambição e era ótimo.

Onde assistir: Google Play e Apple TV (aluguel).

Antes do Anoitecer (2004)

Na mesma época de Caindo na Real, Hawke fez outra obra prima da geração X: Antes do Amanhecer. Lembro de ter assistido o filme na época, enquanto vivia uma série de relações românticas complicadas, e saí do cinema achando ter encontrado o que buscava no mundo. Inclusive o final aberto parecia um chamado ao romance. Saí do cinema determinado a resolver todas as minhas complicações sentimentais e lutar pelo verdadeiro amor. Não funcionou de imediato mas cheguei lá.

Nove anos depois, Richard Linklater traz Julie Delpy e Ethan Hawke de volta como Jesse e Celine para contar o que aconteceu com a geração X depois que ela envelheceu. E o retrato não é muito bom. Eles não se encontraram como prometeram no primeiro filme e “agora” vivem vidas pela metade, adequadas a uma sociedade e a valores com os quais eles não concordam inteiramente. Quem não se sentiu assim ao fazer 30 anos?

Mais uma vez era a crise da geração X na época. Já tínhamos deixado de ser os jovens adultos cheios de promessas e estávamos começando a pagar por todas as decisões erradas que tomamos e pelas nossas relutantes e fracassadas tentativas de adequação. O mundo não era o que desejávamos nem conseguíamos aprender a gostar do que nos ofereciam. Nesse segundo filme da trilogia do Antes, Jesse e Celine desnudam as suas frustrações e a nostalgia da época quando podíamos ser jovens e puros, mas Linklater, depois de tanta reclamação, nos permite ter, bem no final do filme, uma pequena esperança de que é possível não subir no avião da conformidade.

Indicação: Pra quem não quer pegar “aquele” avião. “Baby, you are gonna miss that plane”.

Onde assistir: HBO GO.

Juliet, Nua e Crua (2018)

Pra quem achava que a maturidade não podia ficar pior, Nick Hornby, o escritor especializado nos personagens masculinos que não conseguem crescer, emplacou mais uma adaptação de uma de suas obras tragicamente cômicas, agora com Ethan Hawke, o nosso queridinho da geração X, num dos papéis principais.

Dessa vez, a visão do conflito da maturidade se dá por dois pontos de vista diferentes. Chris O’Dowd, de The IT Crowd, interpreta um professor universitário fascinado pela obra de um músico dos anos 90 que sumiu após lançar a sua “obra prima”. Ethan Hawke interpreta o tal músico que, ao contrário do pequeno culto que o segue, se acha um fracasso artístico e pessoal. Ambos os homens estão paralisados pela nostalgia. Um pela fascinação com o passado, outra pela rejeição ao mesmo. Como boa parte dos personagens nas histórias de Nick Hornby.

Como clichê nunca é demais, uma mulher, Annie Platt, interpretada com econômica elegância por Rose Byrne, é o ponto de equilíbrio desse patético sofrimento masculino de Peter Pan. A história, óbvio, se encaminha para o conflito entre a fantasia e a realidade. Esse movimento para o desastre é divertido e bem moderado pela personagem de Byrne que serve de coro para o comportamento infantil desses dois marmanjos à beira da terceira idade.

Indicação: Pra quem achava que não havia vida depois dos 40 e que é impossível conviver com as glórias, ou fracassos, do passado.

Onde assistir: HBO GO.

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