Os Desajustados (The Misfists) / Eua, 1961. / Direção: John Huston / Com: Marilyn Monroe, Clark Gable, Montgomery Clift, Eli Wallach, Thela Ritter.
Os Desajustados (The Misfists no original) reúne vários fatores que o colocam em uma posição bem interessante.
Primeiro, temos uma película dirigida por John Huston (Relíquia Macabra de 1941e O Tesouro de Sierra Madre de 1948) que, na época já tinha alcançado um lugar bem confortável em Hollywood, dando-lhe o direito de assinar obras mais autorais.
Em segundo, reunidos no mesmo elenco, três grandes e poderosos nomes de Hollywood (Gable, Monroe e Mont Clift), cada um com uma técnica especifica de atuação.
Clark Gable e Marilyn Monroe desapareceriam de cena logo após este filme, tornando “Os Desajustados” um canto de despedida de dois dos maiores astros do cinema. Gable faleceu 10 dias após as filmagens de um infarto fulminante, onde as especulações afirmam que o calor insuportável do deserto de Nevada, a insistência do ator em não utilizar dublês em para algumas sequências de ação e o vício constante do cigarro, o levaram ao óbito instantâneo.
Marilyn, que viria a falecer um ano após, encontrava-se a beira de um ataque de nervos, enfrentando a separação do marido/roteirista Arthur Miller que reescrevia o roteiro diariamente, editando falas e fazendo alterações constantes, o desdém de John Huston que não a via como uma atriz séria e as constantes passagens por clinicas de reabilitação durante as filmagens que foram interrompidas por quase 15 dias.
Enfim….este é o tipo de filme que tinha tudo para não dar certo, mas felizmente o resultado é muito satisfatório e onde pela primeira vez, assistimos um lampejo daquilo que Marilyn sempre almejou: seu amadurecimento como atriz dramática e a tentativa de se desprender da imagem da loura burra e sensual, arquétipo que os estúdios investiram pesadamente. Aqui ela interpreta Roslyn Taber, uma mulher em processo de separação na cidade de Reno que acaba se envolvendo com um cowboy cinquentão (Gable), um homem, de certa forma, arrogante com um estilo livre de vida. O grupo aumenta com a presença do mecânico Guido (Eli Wallach) e do vaqueiro Perce (Montgomery Clift) que decide partir para o deserto em busca dos mustangs selvagens. Este quatro indivíduos desajustados são analisados por um texto melancólico intencionalmente misógino e machista, onde Roslyn/Marilyn atua como uma presença luminosa que desestabiliza e questiona o comportamento masculino prepotente.
Segundo entrevistas, Marilyn detestou o resultado, mas acredito que a estrela não se encontrava em um bom momento pessoal, blindando-a de uma auto análise mais profunda e deturpando sua qualidade artística. Os Desajustados (The Misfists) é uma amostra do potencial de uma atriz que, como tantas, se deixou levar pelo rolo compressor da fama e do sucesso e não suportou o peso de uma indústria que ainda hoje sofre com a misoginia e o machismo.
