Três lançamentos nada atuais nos serviços de Streaming que vale a pena conferir.

Guerra Fria (2018)

Quando James Cameron lançou Avatar, lembro que havia uma expectativa que o 3D fosse dominar o cinema.  Mesmo que 3D já existisse de alguma forma desde 1915 e fosse consistentemente usado desde os anos 50, parecia que essa “novidade” ia se tornar uma espécie de estética padrão. Não se tornou. Graças a Deus. O que o povo esquece é que qualquer inovação técnica e estética no cinema não surge para suplantar o que veio antes, mas, sim, para somar. Como aconteceu com a cor.

Quando os filmes passaram a ser coloridos, assim como houve com o 3D, havia uma expectativa que o preto e branco fosse sumir. Não sumiu. Graças a Deus. Afinal, como toda estética, o P&B tem uma razão de ser e, dependendo da obra, pode ser uma escolha bem mais interessante e sedutora que o technicolor. Alguém lembra dele?

Um bom exemplo contemporâneo onde o P&B soma à narrativa é o filme polonês Guerra Fria. Nessa obra acompanhamos a história de um casal de músicos, uma cantora e  um diretor musical, dividido pela polarização política da, adivinha?, Guerra Fria e pelas suas atitudes frente a ela.

Mesmo se distanciando por barreiras físicas, sociais, ideológicas e posições existenciais, eles continuam se unindo pela música e se rendendo à paixão que os consome. Nessa narrativa lenta e naturalista, o P&B confere textura aos cenários e torna as longas cenas embates de luz e sombra colocando em conflito as diferenças do casal e do mundo que os cerca, enquanto dá destaque ao som e à música. Não à toa, o filme foi indicado e ganhou diversos prêmios de cinematografia.

Assista hoje mesmo e ouse me dizer que cor iria melhorar a sua experiência só pra ver o que vou te responder.

Indicação: Pra quem precisa lembrar que o cinema é mais que plot e cor, é atmosfera.

Onde assistir: Telecine Play.

Cliente Morto não paga (1982)

Uma outra boa razão pra utilizar o Preto e Branco é prestar homenagem e, em alguns casos, também satirizar obras clássicas. Cliente Morto não Paga se encaixa nessa categoria.

Carl Reiner, uma das crias do Show of Shows do Sid Cesar, em mais uma parceria com Steve Martin, conta uma história neo-noir sobre um detetive durão de Los Angeles, onde mais?, que adora tomar mas não sabe fazer café, tem um segredo absurdo, e é contratado por uma bela mulher que chupa balas (de revólver) para investigar a morte de seu pai, um cientista militar e queijeiro. Sim, fica mais absurdo, mas não vou dizer mais nada pra não estragar a experiência.

Ao invés de simplesmente filmar em preto e branco, Reiner numa tacada de mestre resolveu manter o elenco contemporâneo ao mínimo e compor o filme com colagens de antigos filmes em P&B. O resultado é soberbo, tornando a comédia ainda mais forte e prestando uma merecida homenagem a um gênero que merece ser revisitado.

Indicação: Para os Inimigos de Carlotta.

Onde assistir: Claro Video e GooglePlay (Aluguel e Compra).

O Balconista (1994)

Às vezes, a escolha do P&B surge da necessidade e gera uma estética. Nos anos 90, depois de uma década de filmes B e Blockbusters, tivemos um ressurgimento do cinema independente. Dois filmes foram bem representativos da inventidade e capacidade de produção com poucos recursos: El Mariachi, do Robert Rodriguez, e o Balconista, do Kevin Smith.

O Balconista, diz a lenda e Kevin Smith, foi feito com 27 mil dólares tirados de cartões de crédito, empréstimos e da venda de um carro. Para reduzir os custos, compraram restos de película não usada e acabaram com o filme em preto e branco mais por necessidade do que por estética. O pior, ou melhor, é que encaixou direitinho.

Acompanhamos nessa quase comédia um dia infernal na vida sem cor de Dante Hicks, o tal balconista de uma loja de conveniência. Através de pequenos esquetes alinhados por um plot frouxo mas bem representativo pra geração X, vemos Dante estragar a sua vida e como Sísifo, Estragon e Vladimir, continuar preso no mesmo lugar sem conseguir resolver seu drama enquanto espera por um Godot que não vem.

Sim, exagerei. O filme não é essa obra existencial toda, mas é bem simpático e inteligente, e, me desculpem, foi muito importante na minha formação.

O que acho mais interessante desse caso é que as escolhas visuais, feitas por falta de dinheiro, acabaram se tornando emblemáticas para toda uma geração de cineastas e copiadas mesmo quando havia recursos para fazer diferente.

Indicação: Pra quem sente saudade da vida sem cor e sem graça dos anos 90, que era mil vezes melhor que a de hoje.

Onde assistir: GooglePlay e Microsoft (Aluguel e Compra).

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