Três lançamentos nada atuais nos serviços de Streaming que vale a pena conferir.

Lunar (2009)

E cá estamos nós. Um ano depois do início da pandemia no Brasil, novamente trancados dentro de casa. Culpa nossa: seja por não termos seguido a quarentena mais estritamente, seja por termos deixado o povo eleger ineptos mal intencionados. Seja como for, vamos ver se dessa vez aprendemos a ficar quietos em casa.

Um dos problemas de ficar quarentenado é o tal do home office. Ao invés de estarmos trabalhando em casa, a sensação é que estamos morando no trabalho. Aí a tensão e isolamento se tornam ainda piores. Esse é o principal conflito do protagonista de Lunar, interpretado por Sam Rockwell. Mas com um agravante. Ele está um pouco mais isolado do que a gente. Ele está na Lua.

Rockwell interpreta um mineiro de hélio espacial que vive sozinho na Lua numa missão de 3 anos. A duas semanas de seu retorno a Terra ele começa a ter alucinações e acaba sofrendo um acidente no seu veículo lunar. Acorda na enfermaria da estação sem lembrar como chegou lá e resolve visitar o local do acidente onde encontra a si mesmo no veículo danificado. Intrigante, não?

É um filme incrível. Econômico, em orçamento e recursos, trata com muita elegância a discussão da fluidez de identidade usando o artifício dos clones. A situação apresentada é ainda totalmente aderente à ideia do isolamento causado pelo trabalho e como isso se torna uma forma de dividir sua personalidade. Rockwell carrega o filme basicamente sozinho, contando com o robô ao mesmo tempo paternalista e cruel, dublado por Kevin Spacey, como escada.

Confesso que quando assisti pela primeira vez não fiz essa ligação com a questão do trabalho remoto e do isolamento, afinal não tinha vivido isso da forma que vivemos hoje. Agora, essa obra de Duncan Jones ganha esse contorno adicional que aumenta o seu interesse e a sua profundidade.

Indicação: Pra refletir sobre a falácia do equilíbrio entre trabalho e vida.

Onde assistir: HBO GO.

Náufrago (2000)

Imagino que nos anos 1940 o pessoal deve ter pego o mesmo ranço de Jimmy Stewart que peguei de Tom Hanks nos anos 1990. Depois de uma leva de filmes bem feitos, extremamente bem interpretados, e propositadamente melodramáticos, Tom Hanks deixou simplesmente de ser um bom ator pra virar uma espécie de repositório do bom mocismo mundial. Nada contra ele, mas essa cancha de melhor representante da humanidade me deu um certo cansaço.

Óbvio que Zemeckis, que já o tinha dirigido em Forrest Gump, iria chamá-lo para um projeto sobre um náufrago que fica preso por anos numa ilha. Que melhor exemplo de último ser humano da Terra há do que esse?

O filme não passa muito disso. Hanks interpreta um funcionário dedicado da FedEx que abandona a família no Natal para resolver um pepino de trabalho, mas acaba preso na tal Ilha. Sozinho, precisa aprender a sobreviver e, pior, lidar com a falta de contato humano.

Hanks, não posso negar, dá um show, mas o roteiro depende muito de um excesso de monólogos pra contar a história e acaba parecendo peça de estudante do ensino médio que quer discutir, sem a menor profundidade, a natureza humana. Por trás de tudo isso temos o maior e mais bem sucedido exemplo de product placement do cinema. Desde a mensagem que, mesmo depois de anos de um naufrágio, a FedEx sempre vai entregar a sua encomenda, até a relação com a bola de vôlei Wilson, tudo é feito para te vender marcas sem que você perceba.

Pra uma experiência de naufrágio e isolamento mais real e com menos merchandising, melhor assistir ao sensacional e quase sem diálogos Até o Fim com Robert Redford.

Indicação: Pra quem ainda não sabe que sofre de pareidolia.

Onde assistir: Prime Video.

O Quarto de Jack (2015)

A primeira vez que li sobre o livro de Emma Donoghue que originou O Quarto de Jack, fiquei doido. Imagine só um livro escrito sob a perspectiva de uma criança que sempre viveu trancada num quarto e é “enganada” pela mãe, vítima de um rapto, que não há nada além daquelas paredes. No mesmo dia que li a crítica comprei o livro, mas ele acabou se perdendo na interminável fila de “para ler” daqui de casa.

Aí veio o filme. Como eu não tenho essas besteiras de medo de spoiler, fui assistir. Ainda era estrelado pela Brie Larson que eu já gostava muito desde United States of Tara. Não podia ser ruim. Não, não é. É ótimo.

No filme, Larson interpreta Joy, uma jovem que foi raptada e é mantida prisioneira por anos. Depois de diversos abusos, ela acaba engravidando e dá a luz a Jack que cresce sem conhecer nada além do quarto onde vivem. Para salvar o filho, Joy elabora um plano de fuga e eles se libertam, mas precisam reaprender a viver do “lado de fora”.

É um filme difícil pacas e muito pesado emocionalmente, mas muito bonito e bem realizado. É impossível não se sensibilizar com o amor entre a mãe e o filho que passaram tanto tempo presos e precisam um do outro pra sobreviver. O efeito é tão forte que, sério, estou com os olhos marejados só de escrever essas palavras. Não é filme para ser visto sem preparação. Separe um tempo pra ficar pensando sobre tudo depois, e chorar muito, pois vai precisar.

Lembro que depois de ter assistido fiquei tão impactado que resolvi logo ler o livro e me pegava chorando no ônibus a caminho do trabalho com o livro aberto sobre o meu colo. É, sou desses.

Indicação: Pra abraçar seus filhos chorando e pedir desculpas por todas as vezes que perderam a calma com eles na quarentena.

Onde assistir: Netflix.

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