Três lançamentos nada atuais nos serviços de Streaming que vale a pena conferir.

A História sem Fim (1984)

Férias é, ou, pelo menos, era, época de blockbusters e filmes pra crianças. Nesse período pandêmico, sem coragem para ir às salas de cinema, o maior risco é continuar buscando o que está na moda no streaming, tipo Luca, que eu pessoalmente não gostei, ou acabar nas eternas maratonas dos canais infantis. Porém essa é também uma oportunidade pouco aproveitada para apresentar a nossos filhos e sobrinhos alguns filmes clássicos das nossas infâncias que, surpresa, podem até estimulá-los a ler.

Minha primeira indicação é, óbvio, A História sem Fim. Baseado na obra homônima de Michael Ende, o filme conta a história de Bastian, um leitor compulsivo, orfão de mãe e perseguido pelos “colegas” de escola, que esbarra com um livro com o mesmo nome do filme onde acompanha e auxilia o corajoso Atreyu na sua luta para salvar o reino de Fantasia das garras do Nada.

É uma bela história infantil com toda a profundidade que ela merece. Bastian luta pela imaginação como uma forma de escapar do Nada emocional gerado pelo luto da morte da mãe. E tudo funciona nessa adaptação: as criaturas são ao mesmo tempo mágicas e críveis; as atuações infantis são de tirar o chapéu; e a música tema é tão inesquecível que foi o ponto alto do climax da terceira temporada de Stranger Things.

Mas, vale o aviso, como toda boa história infantil, A História sem Fim é uma narrativa pesada e sombria, apesar de também esperançosa; pelo menos no final. Pois, é, quem aqui não chorou com a morte de Artax que atire a primeira pedra, ou livro.

Indicação: Pra quem aprendeu a lidar com o luto no Pântano da Tristeza e precisa passar essa lição aos filhos.

Onde assistir: HBO Max.

A Princesa Prometida (1987)

Tem uns filmes que parecem para criança e não são. Quer dizer, até são, mas eles tem interesses e interpretações diferentes para cada um dos grupos etários. A Princesa Prometida é um bom exemplo desse tipo de filme.

Começa com um avô, interpretado pelo subestimado Peter Falk, contando a história do título para o neto acamado. Apesar de ter todos os clichês dos contos de fada e histórias de capa e espada, tudo é parodiado com elegância e inteligência, ao mesmo tempo fazendo graça e homenageando os gêneros.

O filme conta a história do casal Westley e Buttercup, interpretados por Cary Elwes e Robin Wright na flor da idade e da beleza, que são separados por piratas, príncipes malvados, conspirações medievais, e por um impagável trio de vilões, que se regenera e auxilia o casal a se unir no final da história. Bom, pelo menos 2/3 do trio.

O filme é dirigido por Rob Reiner com uma mão levíssima e todos os atores entregam performances maravilhosas justamente por parecerem estar se divertindo com os personagens exagerados e soberbamente hilários. O único ponto menos magnífico é a trilha sonora de Mark Knopfler que parece copiar Your Latest Trick do Dire Straits, também de sua autoria.

É triste ver pedaços do filme transformados em memes e figurinhas de Whatsapp enquanto a maioria das pessoas não conhece a obra que lhes deu origem. Fazer o quê? Na minha época, televisão, quer dizer, a internet, era chamada de livros, quer dizer, filmes.

Indicação: Pra você que usa os memes baseados no filme mas não sabe exatamente o que eles significam.

Onde assistir: Apple TV e Google Play (aluguel e venda).

O Menino Maluquinho (1995)

Quando eu gerenciava um sebo de livros no início do século, a piada que a gente mais fazia com O Menino Maluquinho é que uma edição sem a assinatura do Ziraldo era raríssma. Claro que é um exagero, mas, excetuando as obras de Monteiro Lobato, acho que não há outro livro infantil tão divulgado pelo autor e presente no imaginário infantil brasileiro do que esse.

O livro foi adaptado para as telas por Helvécio Ratton, cineasta mineiro, que levou a sua terra para o cinema em outras obras excepcionais. Em O Menino Maluquinho não é diferente. Ele situa a história numa Belo Horizonte dos anos 60/70 com referências a avôs ex-combatentes, aos Beatles, e ao Pererê, outra criação de Ziraldo. O roteiro amarra com suavidade o conteúdo episódico e quase descritivo do livro usando como fio condutor a história da separação dos pais do Menino e a perda do avô, criando um palco perfeito para o seu processo de crescimento.

Essa talvez seja uma das mais divertidas e sóbrias adaptações de livros infantis no cinema brasileiro. É emocionante, sem ser piegas; engraçado, sem ser histriônico; é brasileiro, sem ser turístico ou ufanista. É curioso que, tirando o protagonista, nenhum dos atores mirins seguiu carreira artística, o que dá ao filme o melhor do caráter amador, a obra feita por aqueles que amam.

Indicação: Pra pais e filhos maluquinhos que se tornaram ou se tornarão caras legais. Sério, sempre choro nessa cena final.

Onde assistir: Globo Play e NOW.

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