Três lançamentos nada atuais nos serviços de Streaming que vale a pena conferir.

Negócio Arriscado (1983)

Antes de ser apenas uma isca de blockbusters, Tom Cruise já foi um jovem ator em ascensão. Durante as décadas de 1980 e 1990, ele consolidou a sua carreira com filmes de diferentes níveis de qualidade, mas sempre se mostrando um menino esforçado. O que ele não tinha (tem?) de talento ele compensava com over acting, indo da falta de expressão de um Sylvester Stallone ao proverbial “Stella!” do Marlon Brando num piscar de olhos.

Curiosamente, nesse seu processo de maturação como estrela de cinema, ele também interpretou muitos homens imaturos. Alguns por conta da idade, outros por conta de sérios desvios comportamentais. O primeiro filme em que ele mostra todo o esplendor da sua imaturidade é Negócio Arriscado.

Acho que todo mundo só lembra da cena da dança de cueca, que foi “homenageada” em tudo é que é filme e série de TV, mas o filme é bem interessante. Nessa alternativa com QI de dois dígitos às comédias sexuais adolescentes como Porky’s, vemos Tom Cruise interpretar Joel, um aluno do high school, batalhando uma vaga na universidade de Princeton, que fica sozinho em casa durante uma viagem dos pais.

Ao contrário de Macaulay Culkin, em vez de pedir pizza e dormir tarde, ele resolve contratar prostitutas. Depois de um primeiro engano, ele acaba se encontrando com Lana, interpretada por Rebecca De Mornay, que o seduz e rouba a sua casa, tornando a sua vida um inferno e um prazer ao mesmo tempo. Uma bela metáfora de nossas paixões adolescentes.

O pior é que o filme se pretende uma história de formação. Joel, na teoria, se torna adulto, resolvendo sua entrada na faculdade e mostrando a sua veia empreendedora ao montar um prostíbulo em casa no clímax da história. Só que, depois de uma série de complicações às vezes exageradas, tudo se resolve meio de repente e vemos que a tentativa do personagem crescer foi apenas um embuste.

Por incrível que pareça, foi um sucesso de bilheteria e bastante bem considerado pela crítica que, convenhamos, no período, não tinha coisa melhor no gênero para comparar.

Indicação: Pra quem já ficou sozinho em casa dos 15 aos 18 anos e escorregou depois de tentar dançar só usando meias.

Onde assistir: HBO Max e Oi Play.

Questão de Honra (1992)

Depois de virar galã mundial com Top Gun e adquirir uma certa respeitabilidade com A Cor do Dinheiro, Rain Man e Nascido em 4 de julho, Tom Cruise parecia que ia se tornar um ator de peso. É engraçado que logo depois dessa série bem-sucedida de trabalhos ele tenha acabado num filme menor que parece até ter sido feito pra TV. Mas todo mundo pode errar. Até Demi Moore e Jack Nicholson estão nesse filme também. Deve ser culpa do Rob Reiner.

Em Questão de Honra, Tom interpreta um jovem advogado da marinha, talentoso, mas, adivinhem, imaturo, que precisa defender dois soldados acusados de homicídio. Como bom farrista relaxado, sua primeira intenção é resolver o caso num acordo para poder assistir baseball na TV. Porém, sua colega de trabalho, interpretada por uma Demi Moore lutando pra não parecer sexy, o faz ver que o seu trabalho é uma Questão de Honra. Fim do trailer.

Tá, não é tão ruim como pintei. É um filme de tribunal bem amarradinho pelo roteiro do Sorkin, tem uma icônica interpretação do Nicholson, e é uma boa diversão caso você não tenha nada melhor pra assistir. E aí, pra mim, reside o maior problema dele: é um filme bom, mas sem tesão.

Você compreende o drama dos soldados, os erros das forças armadas americanas, o pseudo daddy issue do personagem do Cruise, mas nada tem muita emoção. O filme, como a Demi Moore, faz um esforço brutal para ser apenas profissional e cerebral e só me faz lembrar das imortais palavras dos Black Eyed Peas: “Where is the Love?”. Nesse filme, em lugar algum.

Indicação: Pra quem aguenta a verdade.

Onde assistir: HBO Max, NOW e Oi Play.

Jerry Maguire: A Grande Virada (1996)

Depois de uma série de filmes meio aleatórios, desde Dias de Trovão, até A Firma, passando por Entrevista com o Vampiro, Tom Cruise acabou num filme muito abaixo do seu orçamento normal e fez uma escolha bem acertada que lhe rendeu uma indicação ao Oscar e um Globo de Ouro.

Em Jerry Maguire ele interpreta o personagem título, um agente esportivo inescrupuloso e emocionalmente, tentem adivinhar, imaturo, que um dia tem uma crise de consciência e escreve um memorando pedindo mais ética e empatia no trabalho. Óbvio que não dá certo.

Ele perde o emprego; fica com apenas um cliente, o irritante quarterback Rodney, interpretado com eficiência e coração por Cuba Godding Jr.; e se envolve romanticamente com a mãe viúva Dorothy, que abandonou o emprego para trabalhar com Jerry, vivida por uma jovem e carismática Renée Zellweger, antes das plásticas.

É uma história de formação pra gente velha. Meio como boa parte dos filmes do Cameron Crowe. Homem em crise encontra o amor em pessoa peculiar que o ensina que o mundo pode ser diferente. Sério, vai dizer que Quase Famosos, Vanilla Sky, e Elizabethtown não tem o mesmo plot?

A grande diferença desse filme é que, no lugar de uma Manic Pixie Dream Girl, temos um Manic Pixie Dream Kid, o engraçadinho filho de Dorothy que é quase tão irritante quanto o Rodney com o seu bordão “Show me the Money”.

Mas, falando o sério, o filme é bem legal. O roteiro é exemplar, as interpretações são todas memoráveis, e ele tem excelentes momentos proporcionados pela trilha musical super bem escolhida e pelo núcleo de mulheres divorciadas da irmã da Dorothy que serve de contraponto à imaturidade do Jerry.

Indicação: Pra quem quer saber quanto pesa uma cabeça humana.

Onde assistir: Now e Starz; aluguel e compra na Apple TV e no Google Play.

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