Carícias de Luxo (That Touch of Mink) / Eua, 1962. 99 min. / Direção: Delbert Mann / Com: Doris Day, Cary Grant, Gig Young, Audrey Meadows, John Astin

 

A década de 60 foi surpreendente quando se trata de revoluções: Vietnam, o homem na lua, flower power, Woodstock, Beatles e as drogas lisérgicas foram alguns movimentos que chacoalharam o comportamento social no mundo inteiro. Foi também uma década importante para as mulheres com o aparecimento (ainda que tímido) do movimento feminista liderado pela ativista Betty Friedan incentivando a queimar os soutiens em praça pública.

Mas Hollywood não se intimidava com estes processos e seus roteiros ainda eram repletos de estereótipos ultrapassados sobre o papel da mulher na sociedade. “Carícias de Luxo” (That Touck of Mink) é um destes equívocos constrangedores onde a mulher é exposta sob um viés extremamente machista e sexista pertencente ao imaginário masculino da época. Doris Day é a representação desta “mulher perfeita”, uma verdadeira boneca do lar sempre disposta e alegre cuja felicidade depende da presença de um homem.

Na trama, o carro do milionário Phillip Shayne (Cary Grant) suja o vestido da desempregada Cathy (Doris Day) e ao tirar satisfação ela se apaixona de imediato, apesar de resistir ao assédio do galanteador que presenteava com viagens e casacos de peles (razão do título original). Visto em pleno século 21, o filme é um verdadeiro deboche de algumas conquistas sociais além de ser ecologicamente incorreto (os casacos de peles de animais, proibidos hoje em dia, eram objetos de desejo e status de riqueza). No filme os homens falam de vários assuntos e são extremamente bem sucedidos, enquanto as mulheres trabalham em lanchonetes ou são secretárias e suas preocupações se resumem apenas a presença de um homem em suas vidas. A fachada de comédia inocente e inofensiva é derrubada quando o personagem de Doris Day questiona com uma amiga porque o milionário não lhe deu “ao menos um tabefe” para que ela pudesse sentir-se mulher. Em outra cena Gig Young assedia livremente sua secretária e ela fica feliz por isso.

Os filmes de Doris Day (hoje com 96 anos) foram responsáveis pela construção do arquétipo de uma mulher docilmente submissa e sempre disposta ao desejo masculino. “Carícias de Luxo”, que faz parte desta lista, é um verdadeiro festival de menosprezos, mas importantíssimo como retrato de uma geração que não mais suportava o escárnio dominante masculino. Time’s Up !!!

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