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John Huston sempre foi um visionário que adorava modificar os princípios e conceitos de Hollywood. Filmado num remoto balneário mexicano (Huston adorava o México), este filme dá uma amostra de como o diretor não se encaixava nos padrões norte americanos da época apresentando uma narrativa calcada nas reflexões de personagens atípicos, evidenciando deste jeito, a mudança nos padrões que dramaturgia cinematográfica passaria nos próximos anos.

Em A Noite do Iguana (Night of the Iguana, 1964), baseado numa peça de Tennessee Williams, Huston mostra sua preferência pelo sistema autoral abordando temas picantes e escandalosos. O texto fala de sexo, drogas, traições, homossexualismo e outros tabus, sem discuti-los, nem aprová-los. Os personagens falam muito (o texto é extremamente verborrágico), mas no fundo são extremamente carentes e incapazes de alguma mudança. O filme foi indicado a 4 Oscar , mas ganhou apenas pelo figurino em P&B.

Richard Burton está à vontade no papel do Reverendo Shannon. No auge de sua carreira, o ator expõe toda a complexidade do personagem com maestria e sinceridade. Debora Kerr brilha no papel da artista autônoma Hannah, quase uma previsão da cultura New Age. Ava Gardner impressiona como Maxime, uma mulher emancipada sexualmente, mas emocionalmente fraca (quase uma radiografia de sua vida). Ela possui a postura de uma feminista ativa, trabalhadora e independente, sempre apaixonada por homens errados. Ava anda descalça, usa roupas largas e na maioria das vezes está sempre despenteada. Sue Lyon é a ninfetinha safada que desperta excitação por onde passa, representando a juventude inconseqüente e leviana, enquanto Grayson Hall (indicada ao Oscar de atriz coadjuvante) faz a “sapatona” incubada Judith Fellows, representando a ala reacionária do texto. É aquela que implica, condena e defende o moralismo com tenacidade, exibindo toda a hipocrisia daquele grupo específico.

Na sequência final, Burton de cueca molhada exibe seus “dotes” para uma platéia indignada. Era um sinal que Hollywood estava crescendo e cansada de aturar os musicais melosos e os dramalhões açucarados.

 

 

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Zeca Seabra – Cinéfilo carioca com formação em Comunicação Social pela Puc em 1980 e em Hotelaria pela Estácio de Sá em 1983. A partir de 1995 participou de vários cursos e em 2006 começou escrevendo textos críticos para o blog paulista “Cinema com Pipoca”, um dos primeiros a tratar do assunto. Desde 2010 participa de debates e encontros com textos já publicados em catálogos de mostras especializadas. Em 2016 participou da oficina crítica cinematográfica com o renomado crítico francês Jean-Michel Frodon. É membro da ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro) desde 2013 e crítico do site Almanaque Virtual.

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