A década de 1980 foi a época em que os filmes com temática militar mais fizeram sucesso em Hollywood. Exemplos dessa categoria não faltam e vão desde Toque de Recolher (1981) até Nascido Para Matar (1987), passando, é claro, por aquele que talvez tenha sido o mais bem-sucedido de todos eles: Top Gun – Ases Indomáveis (1986). Entretanto, um filme desse mesmo subgênero e que costuma ser injustamente ofuscado por esse grande sucesso protagonizado por Tom Cruise é A Força do Destino (An Officer and a Gentleman, 1982), de Taylor Hackford, estrelado por um Richard Gere em sua quase desconhecida fase pré-grisalho e que ainda nem sonhava em interpretar o milionário galanteador de Uma Linda Mulher (1990).

Richard Gere em 1982 (ainda com cabelos escuros e bem antes de sua inesquecível participação em “Uma Linda Mulher”)

Vi pela primeira vez A Força do Destino ainda criança, entre os anos de 1986 e 1987, num VHS que havia sido comprado pelo meu tio (ou talvez pelo meu avô) de uma locadora de vídeo famosa na época. Virava e mexia e a fita ia parar dentro do videocassete de duas cabeças lá de casa, para alegria dos admiradores dessa novidade tecnológica (uma espécie de bisavó do Netflix) e que também não se cansavam de assistir à mesma história várias vezes seguidas. Lembro ainda que, após a cena final, eu gostava de rebobinar o filme no modo de visualização, assim, podia ver os atores andando para trás e desfazendo gestos e ações que tinham acabado de fazer. Era uma verdadeira máquina do tempo dentro da TV e que ainda por cima garantia boas risadas.

A capa original do VHS do filme em português

Na trama propriamente dita, acompanhamos a trajetória de Zack Mayo (Richard Gere) desde o momento em que ele se alista para o curso preparatório dos novos pilotos de caça da Marinha americana até sua formatura. Durante o duro treinamento ao qual é submetido, Zack faz algumas amizades importantes como a que desenvolveu por Sid (David Keith) e também uma indigesta inimizade pelo sargento Emil Foley (Louis Gossett Jr.), que, incomodado com seu jeito rebelde e pouco subordinável, fará de tudo para que ele abandone o curso antes de se tornar um oficial fardado. No meio de tudo isso, Zack ainda tem tempo para administrar um recém-surgido romance com Paula (Debra Winger), uma empregada de uma fábrica local.

O treinamento duro e a relação turbulenta entre Zack (Richard Gere) e o sargento Emil Foley (Louis Gossett Jr.)

 

Aclamado tanto pelo público quanto pela crítica, A Força do Destino ganhou dois Oscar (Melhor Canção Original para “Up Where We Belong”, interpretada por Joe Cocker, e Melhor Ator Coadjuvante para Louis Gossett Jr., que se tornou, com isso, o primeiro negro da história do cinema a levar um Oscar numa das quatro categorias que premiam atores. É bem provável que o cuidado que o diretor Taylor Hackford teve ao manter Louis afastado do resto do elenco durante as filmagens tenha contribuído bastante para que o ator pudesse compor seu sargento linha dura da forma brilhante que podemos constatar assistindo ao produto final). O filme teve ainda outras quatro indicações ao Oscar e venceu vários outros prêmios, inclusive o Globo de Ouro de 1983 em duas categorias.

Zack (Richard Gere) e Sid (David Keith): amizade e superação de desafios
Casey (Lisa Eilbacher), a única mulher a se alistar e a se formar no curso

A Força do Destino aborda ainda temas pouco comuns para a época, tais como o preconceito sofrido por mulheres que ousavam entrar para as forças armadas e o suicídio. Uma das curiosidades do filme é que, ao contrário do que sugere a química visível na tela entre Richard Gere e Debra Winger, na época os atores não se davam bem nos bastidores e pouco se falavam fora de cena, como já admitiram em entrevistas. A cena final, com Zack vestido de oficial e carregando Paula no colo, já se tornou icônica e volta e meia é copiada em outros filmes e séries de TV como Friends.

A sátira feita num episódio de “Friends”, com Rachel (Jennifer Aniston) e Ross (David Schwimmer) substituindo o casal original

Neste exato momento, a poucas linhas de concluir este texto, percebo que meu hábito de rebobinar a fita de A Força do Destino visualizando as cenas do filme não ficou de vez lá atrás, na infância, e acaba de ter um revival agora ao escrever este artigo para a coluna Novos Clássicos. Se você já assistiu ao filme há muito tempo e não se lembra mais dos detalhes da história ou se nunca viu e tem vontade ver, já é mais do que hora de procurá-lo na internet e apertar a tecla play. E você nem vai precisar rebobiná-lo depois.

 

Ficha Técnica:

Título: A Força do Destino (An Officer and a Gentleman)

Diretor: Taylor Hackford

Ano: 1982

Gênero: Drama / Romance

País de origem: EUA

Duração: 124 minutos

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