Três lançamentos nada atuais nos serviços de Streaming que vale a pena conferir.

O Rei da Comédia (1983)

A década 80 foi uma bruta ressaca pros diretores que fizeram os anos 70. Os blockbusters mudaram a paisagem do cinema e as suas obras, ao mesmo tempo intimistas e grandiosas, perderam espaço para as grandes bilheterias de estréia. Todo mundo entrou em crise. Uns faliram, uns sumiram, e outros, como Scorcese, piraram. O que, pra nós, foi bom.

Nesse período, meio sem rumo, até se reencontrar com o grande público em Os Bons Companheiros, Scorcese fez filmes aparentemente menores, mas cheios de inventividade e paixão. O primeiro, após perder o Oscar pra Robert Redford, o que deve ter sido duro pacas, foi o Rei da Comédia.

Mais uma vez ele se une a De Niro pra contar a história de Rupert Punpkin, um comediante medíocre que busca a fama e o Olimpo das Celebridades. Sem talento suficiente ele acaba sequestrando um apresentador de talk show pra conseguir aparecer na televisão. É cômico, é trágico, é delicado e estranho. E ainda tem Jerry Lewis no papel do apresentador sequestrado.

Aposto que quando descrevi o plot você deve ter pensado “não vi isso em outro lugar? E Robert De Niro não participa?”. É, viu. Ou quase. Coringa roubou muito dessa fonte. Mas o Rei da Comédia é infinitamente melhor e ao mesmo tempo nada pretensioso.

Indicação: Para quem quer ver tudo o que Coringa poderia ser mas ficou longe de conseguir.

Onde assistir: Amazon Prime.

Depois de Horas (1985)

Se tem um filme que não tem a menor cara de Scorcese, é Depois de Horas. Na época, tentando sem sucesso financiar A Última Tentação de Cristo, Scorcese acabou envolvido nesse projeto que, imaginem só, tava prometido para Tim Burton. Graças a Deus, Tim Burton declinou quando soube do interesse de Scorcese.

Depois de horas é aquele típico filme sobre o branco de classe média que, movido pelos seus hormônios, acaba vivendo um pesadelo kafkaniano. Mesmo não tendo quase nada a ver com Scorcese, é Scorcese puro. A culpa, a paranóia, a opressão e solidão de Nova York; está tudo lá, mas refletido num espelho que deforma a sua imagem e ao mesmo tempo mostra quem você é por dentro.

O plot? Paul Hackett (Griffin Dunne) conhece Marcy (Rosanna Arquette) num café e combina de encontra-la no Soho. No caminho do encontro, ele perde seu dinheiro, acaba entrando no buraco do coelho da Alice e vive uma aventura surreal tentando escapar. Sim, é uma bela versão urbana e moderna de Alice no País das Maravilhas. Só que nessa, o protagonista nada aprende e nada entende no final. Bom, Alice também é assim.

Indicação: Pra quem já se deixou levar pelos hormônios e acabou fazendo uma viagem de auto-descoberta onde não encontrou nada.

Onde assistir: Google Play (aluguel e compra).

Contos de Nova York (1989)

Não sei vocês, mas eu sou um bruta fã de antologias. Ao mesmo tempo que nos permitem ver curtas de excelentes diretores, tem um quê de desafio. Como encaixar histórias diferentes num mesmo tema ou motivo? Scorcese, Woody Allen e Copolla fizeram a sua no final dos anos 80 com o motivo mais safado e abrangente do mundo: Nova York.

No fim das contas cada um fez um filme sobre si mesmo. Os Copolla (Francis e Sofia) lamentam a distância familiar no bobo e pretensioso Life Without Zoe; Woody conta uma longa e engraçada piada de mãe judia em Oedipus Wrecks; mas o único curta que realmente salta aos olhos é o do Scorcese.

Em Life Lessons, Scorcese filma a história de Lionel, um pintor abstrato vivido por Nick Nolte, que precisa lidar com uma crise criativa e com o fim do relacionamento com a sua namorada e musa, interpretada por Rosana Arquette, que também estava em Depois de Horas. O filme é auto indulgente, lento, focado na arte e na dor necessária para criá-la. Bem diferente do típico Scorcese e ainda assim excelente.

A escolha da trilha sonora é ótima e você ainda tem um gostinho da cena alternativa de arte de NYC nos anos 80 com direito a uma participação de um jovem Steve Buscemi, que, na época, já parecia velho.

Indicação: Pra quem lembra das suas musas e de tudo que elas lhe fizeram sofrer.

Onde assistir: Telecine Play.

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