Três lançamentos nada atuais nos serviços de Streaming que vale a pena conferir.

Beleza Americana (1999)

Nos últimos meses acabei meio sem querer (re)assistindo a vários filmes de Sam Mendes. No último, Foi Apenas um Sonho, de repente percebi um traço comum em todos eles: a luta contra a conformidade e, consequentemente, contra a mediocridade. Os personagens em suas obras, inclusive o 007, mas isso é um capítulo à parte, se encontram presos a vidas confortáveis socialmente enquanto são estrangulados pelos papéis que representam. Naquelas tabelinhas de conflitos narrativos, eles se situariam numa interseção entre man vs. self e man vs. society.

Isso vem desde o seu primeiro filme, Beleza Americana. Na sua estréia, Mendes filma o roteiro de Alan Ball que conta a história de Lester Burham, um executivo de meia idade, preso numa vida suburbana sem sentido, que passa por um processo de iluminação provocado pelo desejo que sente pela amiga da filha. Pode parecer um filme clássico de crise de meia idade, mas não é.

Os filmes de meia idade são basicamente reacionários e sempre terminam com o retorno à normalidade. Beleza Americana vai além disso. O desejo que Lester sente o liberta para uma vida sem medo e, por mais Zen que isso seja, acaba o libertando da própria vida. Lester encontra o seu Tao, o caminho, e não se furta a trilhá-lo. Mas, óbvio, a sociedade, representada pela esposa e pelo vizinho, logo vem cobrar a conta.

É um filme da safra de 1999, e, como tal, excelente. Alan Ball, cheio de experiência trabalhando com sitcoms, nos traz uma visão cômica e trágica da vida suburbana. O elenco, com óbvio destaque para o cancelado Kevin Spacey, brilha sob a direção esperta de Mendes, que filma o mundano como mágico e o mágico como mundano, nos fazendo descobrir a beleza que se esconde na vida comum.

Indicação: Pra nos lembrar que a beleza está aí, nós é que não conseguimos ver.

Onde assistir: Netflix e NOW.

Foi Apenas um Sonho (2008)

A luta por trilhar o seu caminho e se manter em seu Tao nem sempre é bem sucedida. Sam Mendes, 9 anos depois, volta aos subúrbios para contar mais uma história de luta contra a conformidade social e ainda faz uma pegadinha com o público, ao reunir parte do elenco de Titanic para uma história sombria e antirromântica. Imagino os fanzocos de Titanic, excitados pra ver a reencontro de DiCaprio e Winslet, obrigados a ver a difícil e cruel história do fim de um casamento.

DiCaprio e Winslet representam um jovem e invejado casal, cheio de sonhos artísticos, que acaba conformado à vida suburbana dos anos 50. Ele, um vendedor entediado e frustrado; ela, uma atriz que acabou se tornando dona de casa. Oprimidos por terem se distanciado do que seria a sua razão de ser, planejam largar tudo e ir para França onde poderão realmente seguir o seu Tao. Só que tudo dá errado. O destino e os erros cometidos pelos dois os colocam no caminho da tragédia.

Não é um filme fácil. Todo o elenco leva seus papéis com um crueldade seca, sem sentimentalismos, tornando muito difícil ter empatia pelos personagens. Mas a sensação de pena e tristeza está lá. É quase como um espelho distorcido onde nos questionamos, frente a esse conto moral, se ter abandonado nossos sonhos valeu a pena ou se foi apenas um caminho sem volta.

Indicação: Pra você se animar logo a tomar a difícil decisão de seguir os seus sonhos antes que a conformidade acabe com você.

Onde assistir: Telecine Play.

Por uma Vida Melhor (2009)

No ano seguinte, Sam Mendes, nos traz uma nova história de questionamento do nosso caminho na vida estrelada por um casal, mas com um clima totalmente diferente.

Verona e Burt, um jovem casal de profissionais que trabalham remotamente, se descobrem grávidos. No meio da gravidez, são informados que a única família próxima irá mudar de país o que lhes faz questionar qual seria o melhor ambiente, tanto no espaço, como socialmente, para criar seu filho. Assim, sem compromissos com trabalho presencial, às vesperas do parto, empreendem uma viagem pelos Estados Unidos visitando parentes e amigos que servem como referências e exemplos de como uma família deve ser.

É uma história de amadurecimento. Verona e Burt, aparentemente adultos, mas não formalmente casados, se encontram num limbo. Ainda crianças espiritualmente, são abandonados pelos pais enquanto se preparam para assumir eles mesmos esses papéis. O casting foi soberbo e trouxe diversos atores conhecidos por papéis cômicos para estrelar um roteiro que anda no fio da navalha entre o drama e a comédia, conferindo um realismo ímpar ao filme.

Como todo Road Movie é episódico, mas, pelo menos pra mim, esse não é um problema. O que realmente me toca no filme é que a clara tentativa de se encaixar na sociedade é consciente, e, graças ao processo de investigação (interna e externa) do casal, eles conseguem encontrar o seu Tao, de uma forma bem espiritual, com amor pelos descendentes e respeito pelos antepassados.

Indicação: Pra quem já não pode cantar aqueles versos da música do Ira: “Se meu filho nem nasceu, eu ainda sou o filho”.

Onde assistir: Aluguel em Claro Vídeo, Google Play e Apple TV.

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