Qual a primeira coisa que passa na sua cabeça ao ouvir esse título? Pode ser tantas coisas, mas aqui especificamente temos um filme que fala sobre as 24 horas de acontecimentos nas vidas de um grupo de pessoas no bairro da zona norte do Rio de Janeiro, Marechal Hermes.

Um bairro dominado pelo embate entre tráfico e milícia, estão os habitantes nas mãos do terror de quem quer ter poder dominante na região. Inspirado em fatos reais, o roteiro é muito bem escrito pelo quarteto Pedro Von Krüger, Leonardo Gudel, Bernardo Doutel e Victor Rosa. Com bons elementos dramáticos o filme é uma tragédia anunciada onde a trama faz com que os personagens se entrelacem em um desfecho que nos prende a atenção e nos faz pensar muito em algumas questões sociais e relações humanas importantes.

Os personagens são bem construídos e aos poucos vamos descortinando como cada um desafia e enfrenta o perigo e como as ações vão gerando mais conflitos e como cada conflito será resolvido, ou não.

Parabéns pela escolha do elenco que teve uma interpretação intensa e equilibrada entre eles. Ninguém roubou a cena de ninguém e todos sem exceção estavam no mesmo patamar de interpretação o que possibilitou para cada ator e atriz brilhar em seus momentos. 

O ator Augusto Madeira interpreta o miliciano Quirino, temido por todos, ele lutou para chegar a esse poder e como quem quer poder, nunca está satisfeito sempre quer mais poder. Com isso é o personagem que sofre mais pressão por diversos lados é ele. Mas não tenha pena dele, ele não merece. Para ele, o que ele faz é “Limpar” o bairro da bandidagem, mas é tão cruel ou mais do que os bandidos que diz perseguir. Ele tira todo direito do cidadão de ir e vir, além de extorquir dinheiro dos moradores para tudo. Além disso, impõe toque de recolher, e determina o que cada pessoa na região pode ou não fazer e com quem pode e pode falar.

Ele tem que sair de uma situação que fugiu do controle e fica acordado por 24 horas com seu fiel escudeiro, e aprendiz de feiticeiro Maciel, interpretado por Vinícius de Oliveira. Ele é uma espécie de protetor, mas que instiga o chefe a cometer mais atos violentos. Maciel era parceiro de Quirino e saiu da polícia com ele para ser seu braço direito no “Projeto” milícia. O interessante é que o diretor Pedro Von Kruger sempre enquadra Maciel à direita de Quirino. Vinícius de Oliveira tem a chance de mostrar um personagem muito longe dele e de seu personagem Malaquias na série “Unidade Básica” que passa na Universal TV. Maciel é violento que tem uma raiva constante e abraça o “Projeto” como objetivo de vida.  Dupla formada, as mulheres são peças importantes na trama começando com Penha, interpretada por Mariana Nunes em uma de suas melhores atuações. Penha é uma mulher do traficante Chapa, interpretado por Jefferson Brasil. Chapa é dono do bairro e é casado com Penha e tem dois filhos. Quirino, Chapa e Penha são amigos de infância, mas a inveja de Quirino o motiva  a tomar tudo que Chapa tem. Quirino também é casado com Bruna (Tainá Medina), uma mulher mais nova quem tem uma filha com o miliciano. Assim como Penha, Bruna tem muita força e um temperamento selvagem de quem acha que está acima do bem e do mal e que pode fazer o que quiser. Ela se esquece que quem brinca com fogo, acaba queimado. Entre elas ainda tem a enfermeira Jéssica, interpretada por Eli Ferreira. Ela é mais na dela, mas também sofre com o medo constante da brutalidade de Quirino. Ela é namorada de Juninho, o melhor amigo de Beto, filho mais velho de Quirino. Penha muda de dona do pedaço para evangélica mãe amorosa e dedicada de três filhos. E quando o mais velho some, ele representa todas as mães de periferia que busca saber o que aconteceu com seu filho que desapareceu a polícia não faz nada por ser conivente com o criminoso. Ninguém dorme por 24 horas e a trama vai se alinhavando e o suspense prende a atenção do início ao fim.

A trama é inspirada em uma história que um miliciano matou o próprio filho. O roteiro se preocupou não em retratar uma história real, mas em representar várias histórias do dia a dia que se repetem em grandes cidades onde o crime cresce com a conivência de políticos e pessoas corruptas da sociedade com o instinto opressor e predador.

A direção de arte  de João Bueno é bem interessante e rica em detalhes nos objetos de cena. A sensação estar na ambientação real da história. A arquitetura das casas aos objetos das casas, igrejas, bares e outros comércios.

A Fotografia de  Jacques Cheuiche proporciona uma tensão visual que o filme necessita e te ambienta bem na trama, mas poderia ter trabalhado mais os Flashbacks que não têm nada para identificar mudança de tempo.

Pedro Von Kruger dirigiu um filme que é mais que entretenimento, é um filme de cunho social e reflexivo que merece ser visto e apreciado não só como arte, mas como um estudo social e de comportamento humano.

Esse filme vale cada centavo do ingresso!

 

 

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