Patricia Clarkson como: Rebbeca Corbett, Carey Mulligan como: Megan Twohey e Zoe Kazan como: Jodi Kantor

O filme dirigido por Maria Schrader é baseado no livro homônimo de Jodi Kantor e Megan Twohey, jornalistas do New York Times que foi publicado em 2019. As duas jornalistas  em conjunto com seus chefes Rebecca Corbett (jornalismo Investigativo) e Dean Baquet (Editor-Chefe do New York Times). Buscaram todos os elementos para cair por terra um sistema que protegeu por décadas os casos de abusos e estupros em ambientes de trabalho em que só as vítimas eram prejudicadas e seus algozes saiam impunes de seus maus feitos. Com isso, eles acabavam estimulados a continuar cometendo atos abomináveis sem nenhuma consequência.  

O trabalho investigativo das jornalistas com apoio do jornal mudou a história no mundo todo. Como é uma história recente, muitas coisas ficamos sabendo por notícias em jornais, internet, TV, Rádio e mídias sociais. O que vamos saber agora é como foi o trabalho investigativo de Jodi Kantor e Megan Twoney em uma versão cinematográfica.

Como é uma história baseada em fatos reais, o roteiro precisa ser muito coerente e respeitar os fatos para desenvolver um filme que tenha o compromisso de registrar fatos e contar uma história. Algumas licenças poética até são permitidas, mas com limites.

Nesse caso, a roteirista  Rebecca Lenkiewicz se baseou no livro e seguiu um caminho interessante ao começar a história um pouco antes para mostrar a ponta do iceberg. O início é marcado em como essa investigação começou e foi ganhando forma.  

Megan Twohey interpretada por Carey Mulligan, começa o filme investigando as denúncias de assédios e abusos do então candidato a Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Como a política atrapalhou a investigação, e juntou o fato da jornalista que estava grávida na época precisou parar para ter sua filha, sua chefe Rebecca Corbett incumbe outra jornalista, Jodi Kantor, a fazer uma matéria investigativa sobre assédios, abusos e estupros em ambientes de trabalho por considerar que a matéria era maior do que Trump. Era o sistema acobertando esses criminosos que ganhavam mais poder e com isso, faziam mais vítimas que tinham suas vidas destruídas e suas vozes caladas.

Corbett recomenda que Jodi procure Megan e a partir desse ponto, temos a dupla de jornalistas formada para expor ao mundo as muitas atrocidades cometidas por homens poderosos. O ponto de partida era que o mesmo acontecia com Donald Trump, acontecia em Hollywood, especificamente com o produtor da Miramax, Harvey Weissman. E isso é interessante!  Vemos o início que chamou a atenção, a jornada e a conquista do objetivo do fato que mudou o mundo. Hoje assédio é crime e estupro se tornou um crime maior. Depois dele, muitos poderosos que tinham essa prática foram sendo desmascarados e foram caindo, perdendo seus cargos e suas posições de poder.

A diretora alemã, Maria Schrader, que também é atriz, fez um ótimo trabalho dirigindo o elenco. Como ela também é atriz, fica mais fácil entender como pode aproveitar o melhor de cada atriz e de cada ator.

Ela trabalhou uma interpretação mais interiorizada com a dupla Carey Mulligan e Zoe Kazan o que nos oferece uma interpretação mais realista e profunda de todos os sentimentos que elas passam em relação ao trabalho e suas vidas pessoais com suas famílias. As duas tem maridos que as apoiam e filhas. Esse trabalho também foi feito com os outros atores e atrizes, mas quando Maria Schrader pode trabalhar com as atrizes que interpretavam as vítimas, teve mais oportunidades de fazer esse trabalho de interpretação que transborda de dentro para fora.

Um dos pontos geniais do filme é ter a atriz Ashley Judd no elenco interpretando ela mesma e interagindo com a jornalista Jodi. Judd foi uma das vítimas do produtor e foi a peça-chave para que a matéria ganhasse a força necessária para expor para  o mundo inteiro o que acontecia. A partir desse ponto surgiu o movimento #Metoo  que repercutiu no mundo inteiro dando vozes as muitas mulheres que sofriam esse tipo de violência em ambiente de trabalho. Mas esse movimento não beneficiou somente as mulheres, já que os homens também foram assediados e tem mais vergonha de falar do abuso e das investidas sofridas que as mulheres. Com isso, leis foram mudadas e muitos poderosos começaram a cair de seus tronos de poder e abuso e o sistema que alimentava essa prática foi se tornando cada vez mais inviável.  Hoje sabemos que Harvey Weissman está preso pelos crimes que cometeu. O personagem aparece no filme de costas e a voz em gravações e ligações. O que é uma alternativa inteligente. A tarefa ficou nas mãos do ator Mike Houston.

A edição do alemão Hansjörg Weißbrich foi importante para que a história ganhasse a força necessária para prender a atenção do público.

O filme “Ela Disse” é sem dúvida um dos melhores filmes do ano porque cumpre muito bem seu papel em contar uma história, prender a atenção e trazer à tona reflexões importantes sobre comportamento da sociedade como um todo.

 

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