Assim como a maioria dos gêneros cinematográficos, o terror vive de ciclos. Depois dos vampiros (explorados até à exaustão e popularizados graças à versão desfigurada e opaca de “A Saga Crepúsculo”), os lobisomens e outras criaturas clássicas, agora é a vez das casas mal-assombradas. Ao lado dos zumbis, elas se tornaram motivos para um número cada vez maior de produções nos últimos anos, que pretendem agradar aos fãs de emoções fortes com seres fantasmagóricos que não querem deixar ninguém em paz, especialmente o público.

Mas por que isso está acontecendo agora? Basicamente, dois nomes foram os principais responsáveis pelo retorno das moradias assoladas por espíritos maléficos: Oren Peli e James Wan. O primeiro surpreendeu Hollywood e o resto do mundo ao realizar, em 2007, “Atividade Paranormal”, um filme barato (teria custado “apenas” US$ 15 mil!) e que acabou rendendo, mundialmente, quase US$ 200 milhões. Um senhor lucro para uma produção que chamou a atenção até do grande Steven Spielberg, que chegou a sugerir para o cineasta como a história deveria acabar.

"Atividade Paranormal" rendeu muitos sustos com poucos recursos (Foto Divulgação)
“Atividade Paranormal” rendeu muitos sustos com poucos recursos (Foto Divulgação)

O que tornou “Atividade Paranormal” um grande sucesso foi a habilidade de Peli em atualizar um recurso que havia sido um dos diferenciais de outro grande hit de terror anos antes: “A Bruxa de Blair”, de 1999. Nos dois filmes, a narrativa se passa através de câmeras subjetivas, com o intuito de torná-la o mais “realista” possível, como se as imagens tivessem sido captadas pelos seus personagens, que ficam diante de um perigoso elemento sobrenatural. A sensação de proximidade, como se os fatos ocorressem com o próprio espectador em seu cotidiano, faz com que os sustos se tornem mais eficazes e deixam o público tenso e preocupado em saber como tudo será resolvido. O bom resultado obtido com “Atividade Paranormal” fez com que seus realizadores fizessem mais cinco sequências. Mas nenhuma delas conseguiu repetir o mesmo impacto do filme original.

Josh (Patrick Wilson) e sua família são assombrados por um espírito maléfico em "Sobrenatural" (Foto: Divulgação)
Josh (Patrick Wilson) e sua família são assombrados por espíritos em “Sobrenatural” (Foto: Divulgação)

James Wan, que se consagrou depois de lançar “Jogos Mortais” em 2004, está conseguindo se tornar o grande nome dos diretores do terror dos últimos anos. O cineasta malaio, que assim como Peli, faz obras eficazes com baixo orçamento, foi bastante feliz com “Sobrenatural” (2010), que conta, de maneira tradicional mas eficaz, a luta de uma família para livrar um dos filhos de uma entidade perversa, que acaba apelando para um grupo de investigadores do paranormal. O filme também foi bem na bilheteria, já rendeu duas continuações (e mais uma está a caminho), e mostrou que ainda havia público para esse tipo de tratamento para as histórias de casa mal-assombrada.

"Invocação do Mal" deixou muita gente com os cabelos em pé (Foto: Divulgação)
“Invocação do Mal” deixou muita gente com os cabelos em pé no cinema (Foto: Divulgação)

Mas a grande sacada de Wan foi mesmo “Invocação do Mal”, de 2013. Inspirado nos casos investigados por Ed e Lorraine Warren na década de 1970, Wan conduz a batalha do casal para descobrir o que está acontecendo numa propriedade em Rhode Island e impedir que algo tenebroso acabe com uma família que acabou de se mudar para o local. Assim como em “Sobrenatural”, o diretor mostra que sabe como construir um clima de tensão sufocante, que deixa os mais impressionáveis com um calafrio na espinha. Além disso, o cineasta consegue algo que não tem acontecido muito frequentemente em filmes de terror atuais: criar personagens e ícones memoráveis. Um deles é a sinistra boneca Annabelle, que apesar de sua pequena participação, cativou os fãs a ponto de ter um filme só sobre ela, lançado em 2014. “Invocação do Mal” ganhou uma sequência em 2016, que também fez uma ótima bilheteria e conquistou a crítica especializada.

Annabelle ficou tão popular que ganhou seu próprio filme (Foto: Divulgação)
Annabelle ficou tão popular que ganhou seu próprio filme (Foto: Divulgação)

James Wan está numa fase tão boa que nem quando faz filmes fora de seu “habitat” natural, obtém bons resultados. Ele surpreendeu muita gente com seu trabalho em “Velozes e Furiosos 7” (2015), que conseguiu até superar a morte de um de seus astros, Paul Walker, que ainda não tinha terminado as filmagens. Além disso, está à frente do filme do Aquaman, inspirado no famoso herói submarino da DC Comics, que faz parte do universo cinematográfico que a Warner Bros quer criar, como fez a Disney com a Marvel Studios. Mas o que muita gente quer mesmo é ver Wan de volta ao comando de uma boa história de terror e deixar muita gente morrendo de medo. Enquanto isso não acontece, ele continua produzindo outros trabalhos, como o recente “Quando as luzes se apagam”, outra obra sobre entidades e casas mal-assombradas. Alguém duvida que esse ciclo ainda vai se manter por um bom tempo? Brrr…

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