Direção: Mark Romaneck/ Roteiro: Alex Garland

Título original: Never let me go/ Ano: 2010

Co-produção EUA/Reino Unido

Lembro-me que quando assiti esse filme pela primeira vez fiquei tão impactada com a história que precisei de um tempo para assimilá-la. Comecei a ler criticas, blogs e avaliações sobre o assunto para tentar entender se as pessoas se sentiam como eu e então compreendi: essa é uma daquelas obras que suscita sentimentos distintos.. Pode-se amar ou odiar, ou simplesmente não saber o que sentir. Mas, não dá para ficar indiferente à trama.

Há quem diga que é triste demais. Sim, é. Revi dias atrás para escrever esta coluna e, novamente, me emocionei. Talvez, para algumas pessoas, esse seja o tipo de filme que só se consegue ver uma vez. Mas o fato é que cumpre o que se propõe: é impossível não terminarmos de assistir refletindo sobre vida, morte e humanidade.

A trama, adaptada do livro do escritor nipo britânico Kazuo Ishiguro, flui e prende a nossa atenção, mesmo que no início não consigamos entender muito bem alguns conceitos.  Ficamos sabendo logo no inicio, que Kathy, agora com 28 anos,  é uma cuidadora e muito boa no que faz.  Mas o que é um cuidador? E um doador? Essas perguntas só serão respondidas bem mais adiante.

A primeira cena, logo após um prólogo que nos informa do aumento da expectativa de vida da população mundial,  nos mostra a protagonista Kathy, observando a cirurgia de um rapaz. A partir daí, ela se recorda do tempo em que era aluna de Hailsham, um internato inglês e somos convidados a embarcar em suas memórias.

Kathy cresce em Hailshan  juntamente  com Ruth, Tommy, e  várias outras crianças. O lugar é aprazível, cercado por belos bosques e lagos. Os guardiões – como se chamam os responsáveis pelas crianças – preocupam-se com elas e com sua saúde. Mesmo que não haja menção à família de nenhuma delas e que nunca tenham ultrapassado os muros da instituição, todas parecem seguras, bem-cuidadas e, até felizes, na sua inocência infantil. À princípio, parece  tratar-se uma história simples, e talvez, até “fofa”, mas, não se deixe enganar. Logo percebemos que aquela não é uma escola comum e que há algo sombrio no fato daquelas crianças estarem ali.

A trama se centra na relação dos três amigos. Kath (Carey Mulligan), a narradora, é uma menina inteligente e criativa.  Tommy (Andrew Garfield) é um garoto sensível, mas, que por ser ruim nas artes – extremamente valorizada na escola – e ter verdadeiros acessos de raiva, acaba sendo vitima de bullyng dos colegas. Ruth (Keira Knightley) é a melhor amiga de Kathy, uma menina alegre, popular e cheia de vida.  Enquanto Kathy se preocupa com Thommy e se mostra amiga dele, Ruth é uma das que debocham do menino. Só que, com o passar do tempo, Ruth e Thommy se tornam namorados e, Kathy, apesar de sofrer com a situação, se conforma e permanece ao lado de ambos. Ao crescerem, eles são enviados para  outro local, onde se prepararão para serem doadores e  cuidadores. Enquanto isso vivem descobertas como amor, perda, traição, solidão e, principalmente, a angústia de quererem descobrir quem são, para além do seu futuro pré-estabelecido.

Há quem questione a passividade dos personagens diante do que lhes é imposto. Eu mesma me perguntei porque nada fazem para mudar seus destinos. Mas o fato é que há muitas possíveis respostas para esse pergunta (respostas que, na verdade, vem acopladas a outras perguntas). Na vida real vemos pessoas que passam  suas vidas conformadas em casamentos ou empregos infelizes. Vemos crianças treinadas para guerra que se explodem com explosivos. Fanáticos que matam em nome de ideais que acreditam ser o certo. Pensando assim, o conformismo dos personagens não soa tão inverossímil. Basta lembrar que foram criados para isso, com a crença de que seu destino era um só e imutável.

Li o livro tempos depois de ver o filme e há algumas diferenças sutis, mas, nada que chame muita atenção. No livro, Kathy tem 31 anos, no filme 28 e algumas situações se desenrolam de forma distinta. Além disso, a amizade de Kathy e Ruth me pareceu mais bem construída na literatura, enquanto seus sentimentos em relação a Thommy são melhor explorados no filme. Entretanto, trata-se de uma ótima adaptação. As questões levantadas pelo autor estão todas lá: amizade, vida, morte e, sobretudo, humanidade e a sensação de ser tarde demais.  Algumas situações e sentimentos explícitos nas páginas de Ishiguro são apenas insinuados na tela e essa sutileza torna tudo ainda mais impactante.

É difícil falar mais do que isso, sem dar spoiler, mas, o que mais fascina/perturba no filme é que, ele poderia ser facilmente descrito como um triller ou uma ficção científica, mas, a humanidade dos seus personagens faz com que seja mais coerente classifica-lo como um drama. Curiosamente, em um filme que, de certa forma, tem como principal questão o que é, no fim das contas, ser humano.

 

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