Em 2014 lancei um livro chamado “Histórias da Turma – Nova Geração”, em que muitos personagens são baseados na minha própria turma de adolescente. Não que sejam o retrato fiel dos meus amigos da época, muito pelo contrário. São na verdade o que eu imaginava que eles eram ou poderiam ser, as histórias que criava para eles em minha mente, de acordo com o que via de suas personalidades. São também a mistura de vários deles, com vários conflitos que, na verdade, nada tem de originais, pois se repetem em diversos lares do mundo inteiro: a descoberta do amor e da sexualidade, as amizades que ficam ou se vão, as dores do crescimento.

O filme da diretora americana Greta Gerwig, que se passa no início do ano 2000, trata da mesma temática, de forma leve e divertida. Para quem como eu, estudou em escola religiosa, foi engraçado assistir cenas como a da freira fiscalizando o tamanho das saias das meninas e me recordar do meu próprio ensino médio (acreditem, isso acontecia).  Mas, o filme cria identificação, mesmo com quem não teve essa experiência, pois trata de uma temática comum a todo adolescente ou adulto que já passou por essa fase: o amadurecimento.  O que muda é a forma de contar a história e Greta faz isso com competência, sem subestimar os personagens ou o público. É muito legal o fato de não repetir os estereótipos presentes em tantos filmes americanos do gênero. Não há “o nerd”, “a gostosa”, “o atleta”. Há simplesmente adolescentes, com todas as suas contradições.

Christine, que se autodenomina Lady Bird, é uma menina que está se transformando em mulher, com tudo que isso implica. Ela quer ser livre, mas ainda depende dos pais. Quer curtir a vida e encontrar um amor, mas, ainda não encontrou alguém para chamar de seu e continua em busca. Tem uma melhor amiga e, em determinado momento, descobre que amizade verdadeira pode valer muito mais do que relacionamentos equivocados (sejam namorados ou amigos que não são tão amigos assim). Sonha morar em uma casa que julga perfeita, mas, precisa se contentar com seu lar de classe média baixa, com um pai desempregado e uma mãe supercrítica. Como aponta Raquel Duarte Garcia em sua crítica aqui no Cinema para sempre, a relação tempestuosa com a mãe e os embates são justamente um dos motores do filme e fazem com que Lady Bird a enxergue quase como uma bruxa contra a qual precisa se rebelar. (http://cinemaparasempre.com.br/index.php/2018/02/15/critica-lady-bird-a-hora-de-voar/).  Só que uma bruxa que ela ama.  Por sinal, esta é a própria sinopse do filme: Lady Bird, que está terminando o ensino médio, quer sair de Sacramento e cursar faculdade em outro lugar, enquanto sua mãe deseja que ela fique na cidade.

O filme sofreu uma acusação de plágio por apresentar a história de uma adolescente em conflito com a mãe e que mora em Sacramento, supostamente a mesma trama central de outro filme.  Claro que não foi para frente. Achei até curioso tanto porque Lady Bird trata de temas comuns a todo adolescente e, portanto, aos filmes do gênero – incluindo os conflitos com a mãe – como por ser sabido que o roteiro é, em grande parte, baseado nas próprias vivências da diretora, que também foi criada em Sacramento.

O primeiro longa de Grata Gerwig concorreu ao Oscar e ganhou o Globo de ouro de melhor comédia em 2018. Pode até não ser um filme que te faz gargalhar, mas, independente das premiações, é um filme simpático e gostoso de assistir, daqueles que te faz sair do cinema com um sorriso no rosto. É bem fácil gostar de Lady Bird.

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